6.12.20

chp apresenta

O SEGREDO DE BROKEBACK MOUNTAIN

EDIÇÃO ESPECIAL

 

Me lembro da primeira vez em que ouvi falar desse filme. Bom, meio que me lembro, ou foi na revista Set ou na G Magazine, talvez tenha sido na G. Era uma pequena nota no canto da página, dizendo que Ang Lee (o diretor de Hulk) iria dirigir um filme sobre dois cowboys gays. Alguns anos depois, em 2006, o filme chegou ao Brasil. Eu peguei uma sessão lotada, sentei ao lado de uma idosa. Foi meio que desconcertante quando pintou a cena de sexo, mas no final, ela, e outras pessoas ao redor, estavam derramando lágrimas. Eu me seguro, não gosto de sair do cinema com os olhos vermelhos. Mas que filme foi aquele? Filmes gays não costumam atrair tanta gente. Semanas depois, ele tava lá no Oscar e era o grande favorito. O filme fez história, marcou uma geração, ficou mundialmente conhecido, e ele nem sequer tinha essa intenção. Pegou todo mundo de surpresa, até os produtores. O filme só queria contar uma história de amor, bela, dramática e honesta.

 

O filme (ele é de 2005) já estava na lista do Oscar 2006 quando chegou aos cinemas brasileiros. A revista SET pisou na bola e colocou o George Clooney na capa da edição de fevereiro (''O homem do ano''), ele tinha 1 filme entre os indicados e 1 indicação para diretor. Mas no miolo da revista, eles apostavam em Brokeback Mountain, destacando-o como melhor filme e Ang Lee como melhor diretor.

 

Apenas 3 páginas foram dedicadas ao filme.

Erro imperdoável na impressão.

Aí temos uma entrevista com Heath Ledger (26 anos). O filme promove o casamento gay? ''Ele não tem aspirações políticas, mas se promover alguma mudança positiva, ótimo''.

 

No filtro, o filme ganhou nota 9.5. Valeu. Mas uma pequena foto do filme na capa seria legal também, foi difícil pra mim encontrar essa edição, com a crítica do filme, no meio da coleção. Mas, chega de Oscar por enquanto. O filme levou seis anos para sair do papel, vamos voltar para 1997.

 

 
 DAS PÁGINAS PARA ÀS TELAS
 
Annie Proulx, vencedora de um prêmio Pulitzer, teve seu conto ''Brokeback mountain'' publicado na revista The New Yorker em outubro de 1997 (lançado no Brasil num livrinho de capa dura, acima). Havia potencial para um filme, mas o tema era complicado, afugentava qualquer investidor. Joseph Fiennes se apaixonou pela história e queria protagonizar uma versão para o cinema, ele procurou três diferentes diretores e o projeto não decolou. Mas havia gente interessada de verdade, o diretor Gus Van Sant já imaginava Matt Damon no papel de Ennis e Joaquin Phoenix como Jack. Joel Schumacher também quis dirigir o filme. O roteiro caiu nas mãos de Ang Lee em 2002, quando ele estava ocupado com ''Hulk''. O diretor não tirava a história da cabeça e havia pensado em se aposentar após o filme do verdão. Ele conseguiu um orçamento modesto e correu pro Canadá.
 

PRÉ PRODUÇÃO

Quando o roteiro foi parar nas mãos do Heath Ledger, ele ficou com um pé atrás, apesar de ter gostado da história. Sua namorada Naomi Watts o convenceu a aceitar o papel. Ele e Jake Gyllenhaal já eram amigos antes desse filme, eles formariam uma boa dupla na tela. Mas muitos outros nomes passaram pelo projeto, gente graúda, e o estúdio ouviu muitos ''nãos''. Josh Hartnett, Colin Farrell, Ben Affleck, Joseph Gordon-Levitt, Leonardo DiCaprio, Ryan Phillippe e até Brad Pitt. Matt Damon disse ''não'' porque já havia feito um homossexual antes (o talentoso Ripley) e Mark Wahlberg não queria fazer uma cena de sexo com Joaquin Phoenix, ele considera Phoenix um irmão. 

 

Anne Hathaway fez um teste para viver Alma, a esposa de Ennis. Mas escolheu o papel de Lureen. Ela disse na audição que se dá bem com cavalos. E isso era mentira, a moça teve que fazer dois meses de equitação antes do início das filmagens. Ledger cresceu numa fazenda, tava de boa. Jake teve que conquistar a simpatia do diretor.

 

PRODUÇÃO

A turma chegou no Canadá com 700 ovelhas, que não podiam beber a água da região (risco biológico), outras ovelhas foram criadas num computador para totalizar 2500. Heath começou a namorar a Michelle Williams. A filha deles, Matilda, nasceu antes da estreia do filme (Jake é o padrinho da menina), mas o casal se separou em 2007. O namoro rendeu uma boa cena no filme, Michelle pediu para que o beijo dos rapazes fosse beeem intenso. No papel da esposa traída, ela pega o marido (barra namorado) beijando outra pessoa e sente seu coração se partir. Mas Jake machucou o nariz na brincadeira. Uma semana após o início das filmagens, dois membros da produção saíram do armário, inspirados pelo filme.



Hoje é fácil encontrar por aí uma cena onde vemos o Heath peladão. A foto foi tirada por um paparazzo. Você não vê essa cena de nudez na versão ocidental do filme. O cara que corre ao lado do ator, também sem roupas, é um dublê do Jake. O filme segue o livro a risca, mas tentou trazer algo novo, uma cena (que levou 3 dias para ser filmada) mostrava Ennis e Jack ajudando alguns hippies a tirar um carro do rio. Os atores não gostaram de gravar essa sequência, o diretor também não curtiu, a cena foi descartada rapidinho. Perto do final do filme, vemos Ennis encontrando sua camisa no quarto de Jack, dentro de uma camisa do rapaz. No final, em sua casa, ele pendura as duas camisas juntas, mas invertidas, com a camisa de Jack por dentro. Como se estivesse dizendo que Jack sempre estará dentro dele. Essa inversão foi uma ideia do próprio Ledger.

 


 PÓS PRODUÇÃO E PRÊMIOS

O filme foi um sucesso inesperado. Randy Quaid (que fez o papel de Joe Aguirre) ficou maluco e abriu um processo. Disseram para ele que o filme seria um lançamento bem modesto, não havia a intenção de faturar os tubos nas bilheterias, por isso ele concordou em receber menos. Acabou que o filme foi o maior sucesso da história da Focus. Recuperou seu gasto após poucos dias em cartaz, mesmo sendo um lançamento limitado, batendo um recorde. O poster do filme foi inspirado no poster de Titanic.



O filme foi banido em muitos países do mundo árabe. Estreou no Líbano censurado, e na Turquia também. Proibido também nos Emirados, mas eles permitiram o dvd nas locadoras. A China também proibiu o filme nos cinemas e permitiu a entrada do dvd no país, ele foi muito alugado. O povo chinês começou a usar a palavra Brokeback para se referir aos homossexuais. A China também celebrou o Oscar de Ang Lee, o primeiro diretor chinês a levar um Oscar. Mas nós, deste lado da cortina de ferro, sabemos que Ang Lee nasceu em Taiwan... O filme foi lançado em dvd pela Universal enquanto ainda estava em cartaz. Foi o primeiro filme a ser lançado em dvd, e para dauloudi, no mesmo dia.



Os recordes não param. Brokeback foi o primeiro filme a ganhar um Oscar de melhor diretor + um director's guild of America award + BAFTA + Globo de ouro + Critic's choice awards. No Globo de ouro, além do prêmio de melhor diretor, o filme também levou o de melhor filme dramático, roteiro e canção. A deliciosa canção de Emmylou Harris (a love that will never grow old) não pôde concorrer ao Oscar (segundo as regras da Academia, a canção toca muito pouco no filme, hunf). Mas a obra conseguiu oito indicações: fotografia, ator coadjuvante (Jake), atriz coadjuvante (Michelle), ator (Ledger), melhor filme do ano, recebendo três prêmios: diretor, roteiro adaptado e trilha musical.



A cerimônia do Oscar 2006 foi uma das mais polêmicas. Jack Nicholson tomou um susto quando abriu o envelope: ''Crash, no limite'' como melhor filme do ano? Ele mesmo havia votado no filme de Ang Lee. Alguns anos depois, os votantes da Academia voltaram atrás numa pesquisa feita pelo The Hollywood Reporter, eles disseram que gostariam de ter votado no Brokeback. A escritora Annie Proulx culpou os cientologistas pela perda do Oscar principal.


Numa entrevista, Ang Lee disse que, se ele estivesse fazendo esse filme na década de 1960 (época em que se passa a história), ele teria escalado Paul Newman como Ennis e Montgomery Clift como Jack. Curiosamente, na época do filme ''Butch Cassidy'', alguém perguntou se Paul e Robert Redford topariam fazer um casal gay, ambos disseram não.

 

LEGADO

Já temos um novo BBM? De 2005 pra cá não faltaram candidatos, são muitos filmes que a comunidade LGBT ama, mas que não conseguiram alcançar a mesma popularidade do filme de Ang Lee (mesmo com a frase ''o novo BBM'' estampada no título das críticas). Teve ''Shelter'' (de repente, Califórnia) em 2007, ''Além da fronteira'' em 2012 ... o mais recente é ''O reino de Deus'', de 2017. Se tem um filme que chegou perto é ''Moonlight'', de 2016. Bastante popular, levou o Oscar principal. Mas a homossexualidade não é exatamente o tema do filme. BBM ganhou outras versões: filmes eróticos, paródias animadas e peças de teatro.

 


E o maior legado do filme talvez seja o seu final obscuro. Será que Lureen mentiu para Ennis no telefone? Ela pode ter descoberto a traição do marido e ... ela o matou? Anne Hathaway chegou a gravar duas cenas diferentes, ela não sabia o que o diretor pretendia, e hoje ela prefere nem perguntar. No conto, Ennis imagina um ataque homofóbico. O elenco se reuniu no programa da Oprah na época e eles ficaram chocados quando alguns fãs duvidaram da morte de Jack. É um saco não saber o que realmente aconteceu.

 

Ainda tenho a primeira versão do dvd br, caixa de papel, disco duplo, com uma luva.

Um poster bonitinho atrás.

Esse dvd deve valer alguma coisa, escreveram o nome de Anne Hathaway errado no poster.

Comprei o blu alguns anos depois. Apenas um disco, nada de extras, que pena. Existe uma versão cheia de mimos lançada na Ásia. Sonho de consumo.

6 comentários:

hugo disse...

Lembro no finado Orkut tinha uma comunidade sobre o filme. Nela, teve uma postagem "polêmica", quando disseram que o poster tinha sido baseado no poster do filme titanic e geral dizendo que não! hahahahha

Anônimo disse...

eu só consegui ver esse filme 1 vez, da parte que eles sairam da montanha pra frente eu não conseguia parar de chorar, talvez pelo fato de ter sido após a morte do Heath Ledger. Um dia quero ver novamente, vou estar mais preparado para as lágrimas...

Raul disse...

O final desse filme de fato envelheceu como leite.

Rafael disse...

Esse filme marcou minha vida! Depois que meu irmão e eu o assistimos, a gente teve uma conversa em que a gente saiu do armário um para o outro. BBM tem um lugar especial no meu coração!

Leirson Reis disse...

Sonho de consumo o livro. Cheguei a tê-lo nas mãos, mas deixei passar a oportunidade achando que poderia encontrá-lo depois. Perdi...

Rubens Marinho disse...

Excelente post, eu simplesmente amo demais esse filme. Durante muito tempo, posterguei a compra do bluray, achando que sempre estaria disponível no mercado. Engano meu, esses dias fui procurar nas grandes lojas e não achei. Acabei comprando no MercLivre por um preço bem salgado. Tenho cinco filmes favoritos da vida, e ambos costumo assistir uma vez ao ano religiosamente. Brobeback é um deles.