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Eu tentava olhar por cima do mar de cabeças, estava procurando pela cabeça loira, com mechas azuis, da Aletéia. Consegui ver sua vassoura mata-criança passando pelo meio das cabeças. Como se fosse a barbatana do tubarão no filme. A barbatana subia e descia, cada vez que desaparecia eu ficava preocupado. Um trovão anunciou o desastre, a sra Robinson entrou na locadora.
- Cansei de esperar por vocês dois no carro.
Gordinha, baixinha, irada. Era a sargento Megera em carne e osso. Estava dando uma bronca no marido, que baixava suas orelhas.
Júnior apareceu logo em seguida.
- Mãe, ela me bateu com a vassoura. Disse ele apontando.
- Você bateu no meu filho?
Téia estava sorridente.
- Sim senhora, ele estava dentro da seção reservada, ele é um safado.
É claro que a sargento Megera só ouviu aquilo que queria ouvir.
E lá vamos nós:
- Sua menina grossa, mal educada (e muitos outros nomes feios) onde já se viu?
Se ela chamar a Aletéia de estrupícia, eu não vou conseguir segurar uma risada.
- Vou fazer você ser despedida.
- Rá, meu pai é o dono dessa merda. Ele nunca vai me despedir.
Filha do dono, sempre funciona. Todo mundo acredita.
- Vamos embora, nunca mais volto aqui.
Ela pegou o filho e o marido e saiu na chuva. O sr Robinson me lançou um último olhar, triste.
Eu fiquei com vontade de matar a Aletéia, o que fazer? O patrão precisa saber o que ela anda aprontando por aqui. O mundo precisa saber. Eu poderia criar um blog e... não, espera, isso ainda não existe. Esqueça a Aletéia, não foi culpa dela. Pense, pense.E se eu fosse atrás do sr Robinson??
Veja a ficha dele, talvez haja um endereço. Sim, tem sim. Campo Limpo Paulista??? Aquele fim de mundo?? Naquela época, o mundo para mim ainda era grande e assustador.
Como vou encontrar esse endereço? Eu poderia usar o google e... não, espera, isso ainda não existe, argh, como eu odeio viver no passado.
De repente, uma luz, um número de telefone. Eu poderia ligar para a casa do sr Robinson e marcar um encontro.
No dia seguinte, disquei o tal número. A sargento Megera atendeu, desliguei na cara dela. De repente, medo. E se ela tiver um daqueles identificadores de chamadas? Onde? No passado e no fim do mundo? Que bobagem.
Mas o telefone da locadora começou a tocar no mesmo instante. Era ela, só podia ser ela. O que eu vou dizer? Seu marido me ama, por favor caia morta? Meus joelhos começaram a tremer. Olhei para os lados e vi a Aletéia num canto do balcão. Ela estava desenhando um crânio na madeira com o canivete.
- Téia, eu disse docemente, você poderia atender o telefone?
- Claro.
E ela pegou o telefone e disse "alô?"