13.1.21

LIGAÇÕES PERIGOSAS E SEGUNDAS INTENÇÕES

RAZÃO E SENSIBILIDADE

No começo, eu achava que a Kathryn e o Sebastian eram irmãos. Eles chegavam juntos na piscina, para as aulas de natação, ambos eram negros, e sempre iam embora juntinhos. Eu voltava de bicicleta e via os dois esperando um ônibus na avenida. A gente fazia natação num horário bem tranquilo, com pouca gente e uma professora. Então, fizemos amizade rapidinho. Aí fiz duas descobertas, eles não eram irmãos. E ela tava meio que gostando de mim. Vamos pular todas as tentativas frustradas da pobre moça de me convidar para sair e todas as minhas desculpas esfarrapadas (estamos nos anos 1990, homossexuais ainda não existem, é mais fácil mentir que sair do armário) e partir para o vestiário masculino.


CRIME E CASTIGO

No vestiário, Sebastian me contou que tava afim da Kathryn (hum, ele tem 18 e ela 17, tem problema? Ela tem 17 e eu sou gay, isso é um problema). Ele tava muito nervoso, não sabia como dar o primeiro passo. Hum, legal, vou dar uma de cupido e ainda tiro a Kathryn do meu pé. Ah, mas você sabe como são os homens, tudo é sexo pra eles, o romance... acho que o romance vem depois. Ele me disse que ficava excitado quando tava perto dela. Ok, isso é fácil de resolver. Eu lhe disse para entrar em um dos cubículos e ... aliviar a tensão. E foi o que ele fez. Fiquei ali esperando. Aí ele sai e diz que não consegue. - O que você quer? Uma mãozinha? falei brincando. E ele disse que uma mãozinha ajudaria. Ah, ok, eu não sou de fazer cerimônias, eu não enrolo, não julgo, eu parto pra cima. E ele finalmente chegou lá.


DESEJO E REPARAÇÃO

Depois de ouvir tantas desculpas, Kathryn parou de falar comigo. Me senti mal por conta disso. Mas o Sebastian ainda não havia criado aquela coragem. Na verdade, depois de três semanas, ele parecia estar num relacionamento sério com a minha mão. E isso começou a me irritar. Eu sabia exatamente como me livrar do cara. São os anos 1990, quando você conta que é gay os héteros saem correndo, fogem para as montanhas (isso aconteceu comigo na escola há alguns anos). Então, na hora da mãozinha semanal, eu peguei a mão dele e me dei uma mãozinha também. Mas ele não se assustou, ele não largou, até deu uma apertadinha. Aí, do nada, tentou me beijar e batemos nossos narizes. Eu me afastei na hora, EU estava fugindo para as montanhas, não ele. Saí do vestiário com ele atrás de mim pedindo desculpas e pulei na água. O que foi que aconteceu? Ele era mais interessante quando eu achava que ele era hétero?


GUERRA E PAZ

Aí chegou maio e a piscina fechou. A gente tinha que procurar por piscinas aquecidas pela cidade. Haviam duas opções, meus dois amigos foram parar numa piscina e eu em outra, bem longe. Setembro chegou e a piscina a céu aberto reabriu, mas eu estava com outra turma e outro professor (ah, esse cara já passou pelo blog). Tudo bem, nenhum dos dois tava falando mais comigo mesmo. Então fiquei sozinho com a quarta ponta daquele triângulo do verão passado. Olhei pra minha mão e pensei: se eu acabar sozinho, com você, isso vai ser triste.

2 comentários:

Frazec (vulgo Jean-Philipe Rameau) disse...

Adoro suas histórias, Alessandro!
Curtas, sem muitas respostas, vívidas!
Keep on!

Raul disse...

Delícia esse caso!