Já contei aqui histórias sobre os meus namorados, mas nunca mencionei o dois ponto cinco, o cara entre o segundo e o terceiro. A gente ficou junto por um curto espaço de tempo, nem chegamos a usar a palavra com N. Como ele morava na capital, a gente quase não conseguia se encontrar. Entre os prós e contras, havia uma caixa de DVDs da minissérie "Band of brothers", eu queria comprar, mas era muito cara, e esse pseudo namorado tinha os DVDs em casa.
A gente tava fazendo uma maratona no quarto dele enquanto seu amigo Francis, que dividia a casa com ele, navegava na Internet no quarto ao lado. Uma hora, ele se levantou e veio falar com a gente. Ele passou horas no bate papo do UOL, procurando sexo casual, e não encontrou nenhum ativo, só passivos.
- É oficial, gente. O último gay ativo de São Paulo acabou de morrer.
(Posso concordar com isso, diferente dos meus outros namorados, o atual era 100% passivo)
- Vamos fazer um minuto de silêncio? Perguntou meu namorado entre aspas.
- Que tal um funeral? Eu perguntei.
Os olhos do Fran soltaram faíscas.
- É isso, vamos dar uma festa !!!
Ah, e como ele sabia dar uma festa ... No fim de semana seguinte, a casa estava cheia, a pedido do Fran todos estavam de preto. Algumas moças, e duas drags, usavam chapéus de viúva, com aquela rede no rosto. Haviam flores e velas pela casa, mas também música e comes e bebes. No centro da sala havia um pequeno caixão numa mesa, feito de cartolina preta dobrada, e havia um buraco na tampa e nesse buraco havia um dildo. Era o caixão do último gay ativo da cidade.
Como não havia suco nem refrigerante, apenas álcool, eu fui até a cozinha para beber água. Quando toquei na maçaneta me lembrei que o Fran havia passado a chave na porta porque queria fazer uma surpresa. Mas notei que a porta estava aberta. E quando eu entrei, surpresa, o Fran estava lá, fazendo sexo com um cara na pia.
- Ah, eu esqueci de fechar a droga da porta. Ele disse.
- E-eu só vim beber água, deixa pra lá.
- Tá tudo bem, disse o ativo, bebe a sua água.
Fiz isso sem olhar pra ninguém e depois disse, de costas, que ficaria vigiando a porta lá fora. Mas antes de sair ...
- Sabe de uma coisa? Isso que você tá fazendo acaba com o tema da festa.
- É verdade, disse o Fran, não conta pra ninguém, pode ser?
Mais tarde, o ativo saiu da cozinha. Entrei e vi o Fran pegando um bolo em formato de pênis. Curtinho, mas gordinho. Ele fez um discurso engraçado na frente de todos, lamentando a morte do último gay ativo. Entre nós, e apenas eu sabia disso, havia um fantasma, ouvindo aquele discurso.
Todo mundo riu quando deram pela falta do dildo no caixão, e ele nunca foi encontrado. Eu estava bebendo outro copo de água na cozinha quando o fantasma entrou e chegou perto demais. Disse que eu tinha olhos bonitos e sorriu. Nesse momento, meu abre aspas namorado fecha aspas apareceu e abre aspas me salvou fecha aspas. Ele queria sair para comprar copos descartáveis e queria que eu fosse junto.
Quando voltamos, o ativo não estava em lugar nenhum. Havia ido embora. O último gay ativo desapareceu na noite ... ele agora é uma lenda.
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