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UMA CILADA PARA ROGER RABBIT EDIÇÃO ESPECIAL |
Mais uma Edição Especial aqui no blog sobre outro filme que está entre os meus favoritos. Misturando atores com personagens animados de uma maneira revolucionária, uma trilha musical deliciosa com um jazz bem suave, um clima noir, um detetive com um passado trágico e uma femme fatale que marcou época. UMA CILADA PARA ROGER RABBIT (1988) é um filme que teve um nascimento complicado. E depois de pronto gerou uma briga entre estúdios e uma continuação nunca foi feita. O filme foi indicado para 6 Oscars (fotografia, direção de arte, som, edição, efeitos especiais, edição de som), levou as estatuetas de Melhor edição, Efeitos especiais e Edição de som. Além de um Oscar especial (o Special achievement award) pela direção de animação e criação dos personagens animados.
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VÍDEO DE TESTE E O DESIGN FINAL. |
O diretor Robert Zemeckis se deparou com o roteiro do filme em 1982 (baseado num livro de 1981: "Quem censurou Roger Rabbit?". O filme se chama "Quem armou para Roger Rabbit" sem o "?" no final, em roliúdi acreditam que o "?" no título do filme traz má sorte), a cena de abertura chamou sua atenção: um humano entra num desenho e grita "Corta", como se fosse o diretor, o bebê animado coloca um charuto na boca e deixa o set nervoso, como se fosse um ator. Zemeckis e Steven Spielberg tentaram recriar essa sequência, esses 60 segundos custaram 100 mil dólares, e deu certo, era possível fazer aquilo, mas ia custar uma fortuna ("Uma cilada para Roger Rabbit" não é apenas o filme mais caro dos anos 80, ele também tem os créditos finais mais longos, uns sete minutos).
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DONINHAS ARMADAS. |
Decidiram que os personagens animados deveriam interagir com objetos reais, pegar em armas, copos, abrir portas, carregar bandejas, mover os móveis... Por baixo de cada personagem temos bracinhos robóticos e hastes de metal, os atores precisavam saber exatamente onde os desenhos iam estar. Era praticamente o oposto dos efeitos de "Mary Poppins", que dificultaram o trabalho dos atores fazendo primeiro a parte animada.
E, copiar o estilo de "Mary Poppins", não era o suficiente. Os desenhos precisavam de sombras, tinham que ser fiéis à iluminação de cada cena. É aí que entra a ILM de George Lucas, eles cobriram cada frame das animações com sombras e pontos luminosos, deram um efeito de pintura esfumaçada para os personagens quando eles estão no mundo dos humanos. Outra inovação em comparação com "Poppins" é o uso de uma câmera que acompanha os desenhos, no filme de 1964 usaram uma câmera fixa. Com uma câmera em movimento, os personagens deixaram de parecer achatados.
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ENCONTRO HISTÓRICO. |
Uma equipe de 326 animadores trabalhou por 3 anos, foram feitos mais de dois milhões de desenhos para cumprir a meta de 24 frames por segundo (para sincronizar com os atores reais). São 55 minutos de sequências animadas num filme com 103 minutos de duração. Spielberg conversou com a Warner e conseguiu trazer os Looney Tunes para um filme da Disney. Mas a Warner fez algumas exigências.
O Pernalonga deveria ter a mesma quantidade de tempo na tela que o Mickey Mouse. O mesmo valeu para o Patolino e o Pato Donald. Como a trama se passa em 1947, os personagens deveriam ter o mesmo estilo daquela época (no início a Warner não topou a ideia). Nesse quesito, o filme cometeu alguns errinhos: as doninhas são de 1949 e a fada Sininho surgiu em 1953, e há muitos outros personagens deslocados. Também vou falar sobre eles. Agora, vamos dar uma olhada no filme.
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CHECANDO OS EFEITOS SONOROS. |
Começamos com Roger e Baby Herman gravando um curta, bem no estilo Tex Avery, com olhos que saltam, bocas escancaradas, reações bem exageradas, mas a violência foi amenizada. É aqui que você nota o trabalho impecável dos efeitos sonoros. Quando o Roger bate a cabeça na parede e várias panelas começam a cair, quase que dá para contá-las pelos sons que fazem. Uma sincronia perfeita.
Aí chegamos na triste história da garrafinha de pimenta. Um único animador ficou responsável pela sequência, levou várias semanas mas ele conseguiu fazer a garrafa parecer um objeto em 3D, ela desliza e depois tomba. O diretor notou que a palavra "chili", no rótulo do frasco, tinha um "L" a mais e o animador teve que refazer o trabalho.
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O ROTEIRO DIZ "ESTRELAS", NÃO "PÁSSAROS". |
As filmagens do desenho são interrompidas, Baby Herman deixa o cenário furioso. Na versão exibida nos cinemas, o bebê mostra o dedo médio depois de passar por baixo de uma saia (no vhs essa sequência foi alterada).
Aí somos apresentados a Eddie Valiant (Bob Hoskins), ele é contratado pelo dono do estúdio, RK Maroon, para tirar fotos da esposa do coelho. Repare num poster na sala de Maroon, o Pistol Packin' Possum, o gambá está segurando a mesma arma que Doom usou para matar Maroon (mais tarde no filme). Será que o juiz é um gambá fantasiado de humano? Na saída do estúdio, Eddie passa por vários personagens de "Fantasia", vemos o Pernalonga e o Dodô da Warner, os capangas da Malévola (eles são de 1959), Zé Grandão de "A canção do sul" e o palhaço Koko da Fleischer studios (com cabelo???).
Aqui vemos o desafio da câmera móvel, ela desce enquanto um sapo animado sobe uma escada, e ele não erra os degraus. No bar da Dolores, é revelado que um desenho matou o irmão de Eddie. Quando ele chega na boate, um gorila na porta pergunta qual é a senha e Eddie diz "Walt me mandou", é, isso deve abrir muitas portas.
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MÚSICA MAESTRO. |
No palco temos Donald e Patolino. Os pinguins garçons de "Mary Poppins" (opa, eles são de 1964) andam pelo cenário carregando bandejas. Elas são manipuladas por pessoas que estão embaixo do cenário, o desenho esconde a haste de metal. Jessica aparece na apresentação seguinte, ela tem a voz de Kathleen Turner no filme, mas quando canta sua voz é de Amy Irving, esposa do Spielberg na época. Ela interage com o Eddie durante a música, nesse ponto usaram uma dublê, é a mão dela que pega a gravata do Bob Hoskins.
Enquanto Jessica canta, Betty Boop ajeita o vestido e seus seios pulam para fora (versão exibida nos cinemas em 1988). Essa imagem foi refeita antes do lançamento do filme em vhs. Quando o gorila joga Eddie para fora da boate, Hoskins teve que se jogar sozinho no chão várias vezes e chegou a se machucar. Eddie volta para casa e Alan Silvestri dá um show na música tema do personagem.
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MOMENTO TRAUMATIZANTE. |
No dia seguinte, vemos o que sobrou de Marvin Acme, um cofre e um desenho no chão, a cabeça foi esmagada mas não há sangue em lugar nenhum (???). Parece que haviam planos para filmar um funeral para Marvin com mais desenhos convidados (como Popeye, Tom e Jerry, Gasparzinho, Superman, Luluzinha, Super Mouse e Felix o gato), mas desistiram da cena porque não conseguiram os direitos de muitos personagens.
Conhecemos o vilão juiz Doom, Christopher Lloyd, e as doninhas. A interação de Doom com o sapatinho não ficou muito perfeita, ele escapa dos dedos do juiz várias vezes. Eddie encontra Roger em sua casa e esconde o coelho quando as doninhas aparecem.
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LUZ E SOMBRA. |
Os desenhos manipulam vários objetos, Roger consegue cuspir água de verdade porque está cobrindo um disparador de água escondido dentro da pia. Com movimentos suaves do braço, Bob Hoskins conseguia fazer a algema de Roger se mover. Eddie entra no quarto secreto do bar e bate com a cabeça numa lâmpada. Outro desafio para a ILM, a lâmpada fica balançando e as sombras dançam na mesma velocidade em cima de Eddie e Roger. Isso acontece em dois momentos, até que Dolores faz a lâmpada parar de se mover.
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CENA DELETADA. |
Depois de deixar Roger com Dolores, Eddie invade o camarim de Jessica e encontra o envelope do testamento de Marvin Acme. Ele recebe um golpe na cabeça e desmaia. Quando acorda, está cercado por Doom, pelas doninhas e Jessica também está lá. As doninhas levam Eddie amarrado até Toontown. Quando finalmente consegue escapar da cidade, passando pelo túnel, Eddie descobre que as doninhas lhe deram uma cabeça de porco. Ele volta para o seu apartamento e toma um banho para se livrar da tinta.
Toda essa sequência foi cortada do filme na edição final. Então, após deixar o bar, Eddie vai pra casa e toma um banho antes de encontrar Jessica em sua sala.
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QUEBRANDO PRATOS. |
Eddie e Dolores voltam para o bar e descobrem que Roger está solto e quebrando tudo. Na verdade o personagem cobre um robô que levanta pratos e os quebra no alto. O Juiz aparece no bar e um dos bêbados tenta proteger Roger dizendo que tem um coelho invisível ao seu lado chamado Harvey. Eu achava que se tratava de outro descuido do roteiro, porque eu me lembrava do filme "Meu amigo Harvey" de 1950. Porém, o filme com James Stewart foi baseado numa peça da Broadway de 1944 (a autora, Mary Chase, ganhou um Pulitzer pela obra).
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ÀS VEZES, OS ATORES LIDAVAM COM UM BONECO. OUTRAS VEZES, ERA O PRÓPRIO CHARLES FLEISCHER, FANTASIADO DE ROGER, ANDANDO PELO CENÁRIO |
Durante a fuga, Eddie derruba o caldo no chão e aí vemos o juiz se afastando para não pisar nele. Nesse momento o filme entregou uma pista, por que o juiz tem medo do caldo? Na rua, Eddie e Roger pegam uma carona com Benny, o taxi. Charles Fleischer, que faz a voz do coelho, também deu voz para o carrinho de desenho.
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O VERDADEIRO BENNY. ESSE MESMO CARRINHO FOI USADO EM "DE VOLTA PARA O FUTURO 3" |
Dentro do cinema, Eddie conta para Roger sua trágica história. Eles voltam para o estúdio e Eddie confronta Maroon, que acaba sendo morto, supostamente, por Jessica. Eddie segue Jessica até Toontown (é o mesmo túnel que vemos em "De volta para o futuro 2", e ele aparece em vários outros filmes também). Quando Eddie entra na cidade temos um festival de easter eggs, vários curtas da Disney em ambos os lados da estrada. De "A tartaruga e a lebre" ao "Dragão relutante", o touro Ferdinando, o Grilo Falante e os três porquinhos. Depois que Eddie bate o carro, vemos os sete anões saindo do metrô, a Branca de neve levando a rainha má (disfarçada) para dentro de uma hortifruti, a Chapéuzinho Vermelho seguindo os porquinhos, o lobo mau espiando do outro lado da rua, o sr Sapo (1949) e o dragão relutante fugindo de Sir Giles.
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FALHA NOSSA. |
Eddie chega no apartamento de Lena Hyena (após encontrar o Droopy, personagem da MGM), confundindo ela com Jessica. Me lembro de ter visto o filme dublado, apenas essa cena, certa vez e notei que a dubladora de Lena se adiantou. Ela começou a dizer "Um homem" cedo demais e parou na primeira sílaba. Eddie foge de Lena entrando no banheiro masculino, tem um recado muito engraçado na parede do banheiro, um tal de Allyson Wonderland quer sexo casual.Eddie encontra o Piu-piu, e depois o Perna e o Mickey. De volta ao chão, quando Lena corre na direção de Eddie, vemos que o filme "Como é bom se divertir" está em cartaz num cinema (o nono longa metragem da Disney, de 1947).
Aqui tem uma parte chata que nunca consigo desver. A ideia de usar uma câmera móvel para os personagens animados acabou jogando Lena contra a parede com perfeição. Mas a "faixa" do asfalto foi junto com ela ao invés de ficar fixa no chão. Acho que fizeram Lena e a faixa na mesma célula de animação e elas deveriam ter sido separadas antes do final da tomada. Por falar em células, os ingredientes que Doom usou para criar o caldo eram misturados e usados pelos estúdios para apagar desenhos nas células de animação.
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QUEM CENSUROU JESSICA RABBIT? |
Outro corte famoso na saída do túnel, Jessica está sem calcinha. São poucos frames, é muito rápido, acharam que ninguém iria descobrir (assim como a mulher nua numa janela em "Bernardo e Bianca"), mesmo no vhs é difícil de ver. Ainda assim, o frame foi descoberto e a Disney mudou a cena em novos lançamentos (em vhs e depois em dvd).Na fábrica de Acme, Doom revela seu plano para destruir Toontown e ficar rico com rodovias. Quando Jessica é revistada por uma doninha, um de seus seios pula para fora, essa cena foi animada, mas não foi parar no filme. Eddie se livra das doninhas fazendo um número cômico, no começo do filme vimos uma foto que mostrava que Eddie e o irmão já foram artistas de circo.
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UM GAMBÁ FANTASIADO? |
Na batalha final contra Doom, há vários efeitos especiais e efeitos práticos sendo usados ao mesmo tempo, tem animação e stop motion. Quando a parede da fábrica é derrubada (repare que cada janela do trem traz uma imagem de assassinato), temos a volta dos easter eggs, começando por "Flores e árvores" (1932), o primeiro curta animado em cores. Os habitantes de Toontown aparecem e novamente vemos vários personagens da Disney e da Warner juntos. Mas o Ligeirinho só seria criado em 1953, o Coiote e o Papaléguas são de 1949 (Spielberg insistiu na participação dos dois) e Marvin o marciano é de 1948. Bambi e Pinóquio, Zé Carioca e Branca de neve, o Pica Pau da Universal é uma surpresa, Koko o palhaço (do mesmo estúdio de Betty Boop, mas ele ganhou... cores, hein?) e Pedro de "Pedro e o lobo" (curta da Disney de 1946). O filme termina com todo mundo cantando "Smile, darn ya, smile", se trata de um curta animado da Warner de 1931 com cópias descaradas do Mickey e da Minnie (eles não são camundongos, eles são... alguma outra coisa, veja no YouTube).
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A SEGUNDA CILADA |
Após o sucesso do filme surgiu a dúvida, quem é o dono do coelho? Curtas animados de Roger e Baby Herman foram lançados em 1990 (você os encontra no YouTube), eles eram exibidos nos cinemas antes das sessões. Parece que a Disney não cumpriu parte de seu contrato, o estúdio não deixou a Amblin exibir um curta do coelho nas sessões de "Aracnofobia". O filme das aranhas não foi bem nas bilheterias? Spielberg bota a culpa na Disney. Em 1996, a Warner lançou "Space Jam", o estúdio perguntou se a Disney poderia retribuir o favor e ceder alguns personagens para o filme. A Disney (sob nova direção) disse "não", a Warner ficou furiosa e prometeu que nunca mais iria trabalhar com a Disney. Segundo a Warner, a Disney acabou com uma década de boas relações entre os dois estúdios.
Dizem que a Amblin não topou fazer a série "Bonkers" com a Disney (uma espécie de Roger Rabbit para a tv, parece ser o mesmo universo, mas nos anos 90), ela foi trabalhar com a Warner e aí surgiram os "Tiny Toons".
A briga durou vários anos. Robert Zemeckis queria fazer uma continuação do filme de 1988, mesmo sem a Warner, e ela foi sendo adiada e adiada até que todo mundo perdeu o interesse. A última promessa surgiu em 2010, mas a Disney ainda acha arriscado trazer Jessica Rabbit de volta.
Porém, existe uma "continuação", lançada alguns meses após o filme, em 1989. Uma HQ da Marvel (acima) que traz o juiz Doom de volta à vida. A história é bacana, mas não daria um bom filme.
2 comentários:
Amo esse filme, mas o vilão me traumatizava quando criança. Acho que ainda hoje também ...
Na minha escola Jessica Rabbit dominava a punheta da rapaziada
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