21.11.24

🍿 O SEGREDO DO MORRO BROKEBACK


Não sei o que as crianças estão fazendo hoje. Minha melhor opção para pegar alguém no passado se chamava sala de bate papo do UOL. Encontrei um cara lá certa vez e, como acontecia com todos os outros, a conversa rolava bem até alguém perguntar: você tem um local?
A maioria nunca tinha um local. Mas esse cara tinha, mais ou menos.
— Tem uma colina perto de casa, cheia de árvores. As pessoas sobem e descem por uma trilha para cortar caminho, mas ninguém se aproxima da área coberta por árvores. Lá no meio existe uma clareira com pouca grama. É um lugar perfeito. São 19:30, já está escuro, ninguém vai ver a gente.
Acho que hoje eu pensaria assim: alerta de serial killer, fuja. Mas na época pensei: cara, que romântico. Digo, você tem que ser muito burro, ou muito romântico, ou estar absurdamente excitado para topar uma coisa dessas.

Encontrei o cara no lugar marcado. Ele me levou para o meio da mata, puxou e estendeu um lençol no chão. Ok, tá na cara que ele já fez isso antes. Deitamos no lençol, tiramos a roupa, não tava frio nem calor, mandamos ver tranquilamente. 
Eu tava de boa ali, pelado fora de casa, deitado no lençol, olhando as estrelas. Não havia um mundo visível ou audível além das árvores. Descansamos por alguns minutos e começamos de novo, desta vez com beijos na boca.



Não trocamos telefone nem nada. Então passei os dias seguintes tentando não me apaixonar. Entrei no chat novamente, com outro nick (eu nunca tive um fixo) e encontrei outro vizinho de bairro. Quando perguntei sobre o local, foi... copiar e colar.
Tem uma colina perto de casa...
Opa!!! É o mesmo cara!!! Está na hora de alguns pensamentos conflitantes.

Não dá pra pedir o cara em namoro. Ele entrou no chat e está convidando outros homens para sexo casual. Se eu disser: lembra de mim? Vou ouvir: que legal, vamos repetir. Ou: desculpe, a fila andou. Eu também poderia fazer uma surpresa, a gente se encontra no morro e ele vai dizer: ah, é você!!! Ou, ah, é você...
Caramba, achei que a gente tinha tido um momento sob as estrelas. É melhor esquecer. 
— Ah, tô achando isso meio perigoso, eu respondi, deixa pra lá.
Nesse momento, uma tia entrou no quarto. 
— Como assim você ainda não tem uma namorada? Vou te apresentar pra uma moça lá da minha igreja.

Notei que o cara do morro saiu da sala, resolvi sair também, e de casa idem, para evitar certas conversas. Será que ele conseguiu marcar um encontro? Resolvi ir até o morro, eu ficaria só espiando de longe. Tava escuro, tava frio, ninguém apareceu, voltei pra casa.
Depois disso, o bate papo meio que perdeu a graça. Notei que queria muito mais um namoro, o sexo casual tava cansando (e raramente eu pegava um bonitão). Aquele último encontro havia sido romântico além da conta... pra mim. 
Reconheci o cara num xópim alguns meses depois, eu estava com o meu segundo namorado e ele também estava com alguém. Ele não me reconheceu, mas nós sempre teremos a lembrança do morro.


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