Aletéia não tinha pressa alguma, entramos no cemitério onde ela fazia suas compras, e quando digo "compras" quero dizer "pegar coisas 'emprestadas' dos mortos". Havia um pessoal passando com um caixão e ela me disse "vamos fingir que estamos rezando". Quando eles sumiram entre os túmulos ela tirou sua jaqueta.
Já havia visto isso várias vezes. Quando ela vê algo que gosta, ela pega, simples assim. Enrolou a jaqueta na mão e deu um soco no vidro do túmulo, naquele pequeno nicho ao lado das fotos e nomes, agarrou um crucifixo que ela achou "da hora".
Com seu novo acessório em seu pescoço saímos do cemitério. Faltavam alguns poucos quarteirões para a locadora quando vimos um fio elétrico no chão, que descia do alto de um poste, não parecia perigoso mas, depois que passamos por ele, ela nos fez parar.
Havia um idoso subindo a rua.
- Vamos ver se o velho pisa no fio e leva um choque, disse ela.
Ficamos parados na esquina por um tempo, o velho andava como um caracol, quando finalmente passou pelo fio ele simplesmente evitou de pisar no mesmo.
Uma passada pelo cemitério e mais alguns minutos perdidos numa esquina, havia um ótimo motivo para Téia ser tão lerda aos sábados. Assim que a gente abria as portas o Bruno aparecia.
Bruno era um garotinho que devia ter uns 8 anos (hum, deve ter mais de 20 hoje), mimado pela mãe até dizer chega, ela fazia qualquer coisa por ele, não lhe negava nada. Na locadora ela gostava de contar o quanto o Bruninho era esperto, conseguia ver qualquer filme legendado e sabia mexer no video cassete, por isso ela o deixava ver filmes sozinho na sala, não havia a necessidade de ligar o aparelho para o filho ou ajudá-lo a ler as legendas. Todo sábado os dois, mãe e filho, pintavam na locadora, ela pegava romances e deixava o Bruno pegar qualquer filme infantil.
Naquela época as fitas se mantinham nas estantes, havia uma fenda na madeira logo abaixo da fita onde ficavam papéis plastificados com o nome e o código do filme. Era esse papel que os clientes pegavam e levavam pra gente no balcão, com o código em mãos procurávamos pelo filme na estante atrás de nós.
A mãe do Bruno gostava de conversar com a Juliana enquanto o filho procurava sozinho algum filme. Até aí tudo bem, mas até eu reconheço que o pestinha era uma peste. Sempre de bom humor, você NUNCA está de bom humor o suficiente para aguentar esse garoto, saltitando pela loja e cantando, mó alegria. Quando entrava pela porta gritava um "bom dia" pra gente, e continuava a gritar até que ouvisse uma resposta de nós. Era estranho o modo como ele entendia o mau humor da Téia como se fosse uma brincadeira. Para cada "bom dia" que ele dava para ela, Téia respondia coisas como "vai se ferrar", "desgruda", "vê se morre" e o garoto dava risadas. Ela não o suportava mais.
E eis que ela pensou num plano para acabar com a graça do moleque.
Enquanto a mãe estava no balcão batendo um papo de igreja com a Ju, Téia tentava fazer o menino levar filmes de terror pra casa. Desafiando-o a assistir cada filme que ela recomendava, ele dizia que sua mãe não queria que ele pegasse filmes desse tipo, ela o chamava de covarde, "pegue a droga do filme e não conte para ela que pegou". De fato a mulher confiava no filho, muitas vezes nem sabia o que ele tinha alugado. Téia pegava o código e empurrava a fita pro moleque. Ok, sei que o garoto ainda estava longe da puberdade mas acho que nenhum homem gosta de ser chamado de covarde por uma mulher (ou menina), ele topou o desafio e levou um filme.
Na minha opinião ele não chegava a ver nenhum dos filmes, talvez o primeiro minuto, voltava para devolver o filme dizendo que havia assistido tudo. Para tirar a dúvida Téia começou a fazer perguntas sobre o filme. Não teve jeito, ele começou a ver os filmes de verdade só para poder responder cada pergunta que Téia fazia, eu acho que ele era apaixonado por ela e queria impressioná-la. Ela queria matá-lo, ele estava vendo os filmes e gostando.
A ideia de tentar traumatizar o garoto não estava dando certo.
Numa sexta feira eu a lembrei de que no dia seguinte o menino viria.
-Então? que filme você vai recomendar pra ele amanhã?
De repente uma lâmpada surgiu no alto de sua cabeça. Ela me pegou pelos ombros e deu um sorriso, olhei em seus olhos, haviam dois crânios no lugar das pupilas.
- Vou fazer aquele peste assistir todos os filmes "faces da morte".
Para quem não conhece "faces da morte" é uma série de "documentários" que , supostamente, mostram cenas reais de morte, sejam corpos dançantes de galinhas decepadas ou homens na cadeira elétrica. Me faziam passar mal quando a crueldade era contra animais. Cada fita trazia o aviso "proibido em 13 países" ou 15 ou 20 por aí. A gente tinha até filmes eróticos com avisos desse tipo! dava para pensar que o patrão era um sádico, Téia gostava de dizer que ele iria sacrificar a Juliana num altar já que a Ju ainda era virgem, "rápido Alessandro, tira a virgindade da Ju e salva a vida dela", rá! tá bom.
E o pobre Bruno levou 3 filmes da série pra casa.
Na segunda feira a mãe veio devolver os filmes, tão cedo? sim, ela descobriu o que o filho estava vendo na tv e ela também disse que o Bruno contou a ela que a Téia havia recomendado os filmes.
A mulher estava irada.
-Como pode dar ao meu filhinho filmes desse tipo? ele é só uma criança, e blá blá blá.
Já havia visto isso várias vezes. Quando ela vê algo que gosta, ela pega, simples assim. Enrolou a jaqueta na mão e deu um soco no vidro do túmulo, naquele pequeno nicho ao lado das fotos e nomes, agarrou um crucifixo que ela achou "da hora".
Com seu novo acessório em seu pescoço saímos do cemitério. Faltavam alguns poucos quarteirões para a locadora quando vimos um fio elétrico no chão, que descia do alto de um poste, não parecia perigoso mas, depois que passamos por ele, ela nos fez parar.
Havia um idoso subindo a rua.
- Vamos ver se o velho pisa no fio e leva um choque, disse ela.
Ficamos parados na esquina por um tempo, o velho andava como um caracol, quando finalmente passou pelo fio ele simplesmente evitou de pisar no mesmo.
Uma passada pelo cemitério e mais alguns minutos perdidos numa esquina, havia um ótimo motivo para Téia ser tão lerda aos sábados. Assim que a gente abria as portas o Bruno aparecia.
Bruno era um garotinho que devia ter uns 8 anos (hum, deve ter mais de 20 hoje), mimado pela mãe até dizer chega, ela fazia qualquer coisa por ele, não lhe negava nada. Na locadora ela gostava de contar o quanto o Bruninho era esperto, conseguia ver qualquer filme legendado e sabia mexer no video cassete, por isso ela o deixava ver filmes sozinho na sala, não havia a necessidade de ligar o aparelho para o filho ou ajudá-lo a ler as legendas. Todo sábado os dois, mãe e filho, pintavam na locadora, ela pegava romances e deixava o Bruno pegar qualquer filme infantil.
Naquela época as fitas se mantinham nas estantes, havia uma fenda na madeira logo abaixo da fita onde ficavam papéis plastificados com o nome e o código do filme. Era esse papel que os clientes pegavam e levavam pra gente no balcão, com o código em mãos procurávamos pelo filme na estante atrás de nós.
A mãe do Bruno gostava de conversar com a Juliana enquanto o filho procurava sozinho algum filme. Até aí tudo bem, mas até eu reconheço que o pestinha era uma peste. Sempre de bom humor, você NUNCA está de bom humor o suficiente para aguentar esse garoto, saltitando pela loja e cantando, mó alegria. Quando entrava pela porta gritava um "bom dia" pra gente, e continuava a gritar até que ouvisse uma resposta de nós. Era estranho o modo como ele entendia o mau humor da Téia como se fosse uma brincadeira. Para cada "bom dia" que ele dava para ela, Téia respondia coisas como "vai se ferrar", "desgruda", "vê se morre" e o garoto dava risadas. Ela não o suportava mais.
E eis que ela pensou num plano para acabar com a graça do moleque.
Enquanto a mãe estava no balcão batendo um papo de igreja com a Ju, Téia tentava fazer o menino levar filmes de terror pra casa. Desafiando-o a assistir cada filme que ela recomendava, ele dizia que sua mãe não queria que ele pegasse filmes desse tipo, ela o chamava de covarde, "pegue a droga do filme e não conte para ela que pegou". De fato a mulher confiava no filho, muitas vezes nem sabia o que ele tinha alugado. Téia pegava o código e empurrava a fita pro moleque. Ok, sei que o garoto ainda estava longe da puberdade mas acho que nenhum homem gosta de ser chamado de covarde por uma mulher (ou menina), ele topou o desafio e levou um filme.
Na minha opinião ele não chegava a ver nenhum dos filmes, talvez o primeiro minuto, voltava para devolver o filme dizendo que havia assistido tudo. Para tirar a dúvida Téia começou a fazer perguntas sobre o filme. Não teve jeito, ele começou a ver os filmes de verdade só para poder responder cada pergunta que Téia fazia, eu acho que ele era apaixonado por ela e queria impressioná-la. Ela queria matá-lo, ele estava vendo os filmes e gostando.
A ideia de tentar traumatizar o garoto não estava dando certo.
Numa sexta feira eu a lembrei de que no dia seguinte o menino viria.
-Então? que filme você vai recomendar pra ele amanhã?
De repente uma lâmpada surgiu no alto de sua cabeça. Ela me pegou pelos ombros e deu um sorriso, olhei em seus olhos, haviam dois crânios no lugar das pupilas.
- Vou fazer aquele peste assistir todos os filmes "faces da morte".
Para quem não conhece "faces da morte" é uma série de "documentários" que , supostamente, mostram cenas reais de morte, sejam corpos dançantes de galinhas decepadas ou homens na cadeira elétrica. Me faziam passar mal quando a crueldade era contra animais. Cada fita trazia o aviso "proibido em 13 países" ou 15 ou 20 por aí. A gente tinha até filmes eróticos com avisos desse tipo! dava para pensar que o patrão era um sádico, Téia gostava de dizer que ele iria sacrificar a Juliana num altar já que a Ju ainda era virgem, "rápido Alessandro, tira a virgindade da Ju e salva a vida dela", rá! tá bom.
E o pobre Bruno levou 3 filmes da série pra casa.
Na segunda feira a mãe veio devolver os filmes, tão cedo? sim, ela descobriu o que o filho estava vendo na tv e ela também disse que o Bruno contou a ela que a Téia havia recomendado os filmes.
A mulher estava irada.
-Como pode dar ao meu filhinho filmes desse tipo? ele é só uma criança, e blá blá blá.
Téia tentou botar a culpa no pivete dizendo que ele havia escolhido os filmes e ela havia tentado fazer o garoto desistir da ideia, a mulher não acreditou nisso. Lagartixa de igreja ela tinha uma certa aversão à minha amiga, o patrão havia dito para Téia parar de pintar os cabelos de vermelho, eles estavam voltando ao loiro natural (ou como ela o chamava "loiro sujo") e naquele dia não poderiam estar mais imundos, com leves traços de vermelho aqui e ali. Como se alguém houvesse virado uma panela de espaguete ao molho de tomate na cabeça dela. Mas ela ainda podia usar suas roupas de couro e pintar suas unhas de preto.
A mãe do Bruno decidiu que não ia gastar mais nem um minuto conversando com a gentalha e disse:
- Eu quero falar com o seu chefe, ele vai te botar na rua ainda hoje.
- Se você pensa que meu pai vai me despedir está redondamente enganada.
WOW, aquilo saiu tão rápido que até eu me assustei por um segundo.
Aletéia não era filha do nosso chefe. Me perguntei como ela conseguiu pensar naquilo tão rápido, será que estava guardando aquilo para emergências como essa? é possível, ela odeia interagir com seres humanos, já foi mal educada com muita gente.
Naquele dia os deuses do rock estavam contra ela, o patrão apareceu na loja nesse exato minuto. Aí foi a minha vez de pensar rápido, corri até ele e o abordei com frivolidades enquanto a mãe do Bruno saía pela porta da frente sem vê-lo.
Uma semana depois a Ju comentou:
-Encontrei a mãe do Bruno na igreja ontem, ela disse que não vai mais pisar na locadora enquanto a Téia estiver trabalhando aqui.
O que significa que estávamos livres do Bruno também.
Mas minha amiga, metaleira e desbocada, tinha que ser a portadora da última palavra.
No domingo seguinte eu e ela fomos à igreja da mãe do Bruno, sentamos alguns metros atrás da mulher, num banco vazio. Risadas, gemidos de tesão, tosses e barulhos de peidos anunciavam a presença do anti cristo.
A mãe do Bruno decidiu que não ia gastar mais nem um minuto conversando com a gentalha e disse:
- Eu quero falar com o seu chefe, ele vai te botar na rua ainda hoje.
- Se você pensa que meu pai vai me despedir está redondamente enganada.
WOW, aquilo saiu tão rápido que até eu me assustei por um segundo.
Aletéia não era filha do nosso chefe. Me perguntei como ela conseguiu pensar naquilo tão rápido, será que estava guardando aquilo para emergências como essa? é possível, ela odeia interagir com seres humanos, já foi mal educada com muita gente.
Naquele dia os deuses do rock estavam contra ela, o patrão apareceu na loja nesse exato minuto. Aí foi a minha vez de pensar rápido, corri até ele e o abordei com frivolidades enquanto a mãe do Bruno saía pela porta da frente sem vê-lo.
Uma semana depois a Ju comentou:
-Encontrei a mãe do Bruno na igreja ontem, ela disse que não vai mais pisar na locadora enquanto a Téia estiver trabalhando aqui.
O que significa que estávamos livres do Bruno também.
Mas minha amiga, metaleira e desbocada, tinha que ser a portadora da última palavra.
No domingo seguinte eu e ela fomos à igreja da mãe do Bruno, sentamos alguns metros atrás da mulher, num banco vazio. Risadas, gemidos de tesão, tosses e barulhos de peidos anunciavam a presença do anti cristo.
7 comentários:
E mais uma vez eu digo aos fãs da minha amiga.
Aletéia se mudou da cidade, está casada e já é mãe, não a vejo desde 1994,e a Juliana também sumiu.
KKKK
Ri litros aqui. Credo.
Poooxa, vc desenha bem! Deve mostrar mais esse seu lado no blog. gostei!
t.
PS: Desculpa, estou devendo comentarios em várias postagens, mas não tive tempo msm. Assim q puder, cominto, juro.
Att.
GENTE!!!!
EU AMO A ALETEIA!!!!!
hauhauhauahuahauhauhua
Aletéia lovers ♥ Bem que ela podia encontrar, por um acaso, o blog
Aletéia! Cada vez que ela dá as caras no seu blog, ela rouba a cena! Muito bom ler a tentativa dela de infernizar a vida da serelepe criança (me senti assistindo o macaco louco bolando algo contra uma das meninas super poderosas).
Mas a minha maior surpresa foi ver a sua assinatura na imagem de apresentação do post! como assim você desenha? de onde ela tirava o sangue que pingava de suas mãos?
Ps1.: fico imaginando se hoje em dia ela coloca seus filhos para assistir "faces da morte" ou "o ursinho pooh".
Aêê, Sky! HAEUHUAHUHHAUUEHAU Tava curioso pra saber essa história, mesmo.
Continuo fãzaço da Aletéia, o "se você pensa que meu pai vai me despedir, está redondamente enganada" foi genial. =P Vou anotar isso e pensar em algumas variantes, para o futuro.
E aí está a tão pedida história da Aletéia. Mas "Faces da Morte" já é demais, nem eu penso em assistir a esses filmes, aliás, dizem que umas mortes parecem ser falasas. Falsas ou verdadeiras, não me vem à cabeça uma pessoa fazer um "filme" só com mortes!Isso é loucura, mas louco ainda é quem aluga esse tipo de...coisa.
Ah, quero mais histórias da locadora!!!
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