SHMOO - A FOCA FOFA

Se você tem problemas para dizer que tipo de animal é o Pateta eu te desafio a classificar Shmoo, a suposta foca fofa. Shmoo era o nome do nosso patrão, o dono da video locadora, ok, NÓS o chamávamos de Shmoo, quando ele não estava por perto. Devido ao seu bigode e ao corpo em formato de pêra. Shmoo entrava na loja, olhava para os lados à procura de sujeira e indícios de desorganização. Cumprimentava a Juliana e eu, olhava torto para o crânio coberto de sangue na camisa da Aletéia e ia embora. Não tinha muitas queixas de nós, éramos bons funcionários, se ele tivesse olhos na nuca apenas veria a Téia lhe mostrando o dedo médio duas vezes ao dia.

Os góticos, os emos da época, faziam pic nics no cemitério perto de casa. Era fácil encontrar um deles na rua, encontrar homocaras por outro lado, era impossível. Quanto mais você viaja no passado maior é o número de gays escondidos nos armários. Para mim era difícil encontrar alguém para namorar.
Eu estava em um dos meus períodos de cio num domingo quando fui ao cinema ver a morte de Freddy Krueger, em 3D! e tive a primeira de inúmeras experiências azaradas no departamento "paquera". Um carinha lindão entrou no cinema e travamos um contato visual que foi além dos 1.5 segundos socialmente aceitos entre os heterocaras. Ele se sentou a algumas poltronas na minha frente e se virava para me olhar. Seria fácil, eu me levantaria e iria me sentar ao seu lado ou ele faria esse movimento antes de mim.
Mas antes que qualquer um de nós se movesse, Shmoo entrou no cinema.
Porfavorporfavorporfavor não me veja sentado aqui.
Ele me viu.
Porfavorporfavorporfavor não vem sentar ao meu lado.
Ele veio.

Encontrar o patrão fora do trabalho não é tão estranho, é até interessante, ele não tem poderes sobre mim. Mas naquele dia ele ia arruinar meus planos. Se sentou ao meu lado. Ao me ver acompanhado o rapaz lá na frente não voltou a me olhar mais, deve ter ficado com medo do meu enorme "pai". Antes do filme começar Shmoo puxou conversa. Falou sobre sua vida e fez perguntas a respeito da minha.
AHHHHHHHHHH!!!!!!
Ele estava tentando ser amiguinho!!!!!
Você não ia querer ter como amigo um cara tão chato quanto ele.
No auge de seus 40 e poucos anos, solteiro e morando com sua mãe, sua única diversão eram os filmes. Falava sem parar para respirar, acho que devia ter poucos amigos e estava tirando o atraso. Fez um resumo dos outros 5 filmes de Freddy Krueger para mim embora eu tenha dito, mais de uma vez, que já vira todos. Mas ele não me ouvia, aquilo não era uma conversa, era um monólogo.
Em determinado momento eu já nem prestava mais atenção no que ele dizia. Olhava tristonho para a nuca do bonitão sozinho lá na frente e depois resolvi contar quantas pipocas estavam caindo da boca do Shmoo e rolando por toda a circunferência de sua pança antes de finalmente cair no chão, parecia que estavam se divertindo.
Na saída eu percebi que não ia conseguir me livrar dele para ir atrás do rapaz, então voltei para casa, com o carente Shmoo me acompanhando até o ponto de ônibus.
Na segunda feira Téia estava quase molhando a calcinha de tanto rir (supondo que ela tenha o costume de usar uma calcinha) quando lhe contei sobre meu encontro com Shmoo.
Quando ele apareceu mais tarde naquele dia, era a mesma pessoa de sempre, o patrão que chega procurando por algo fora do lugar porque adora dar ordens. Era como se o encontro de domingo nunca houvesse ocorrido.
Fiquei aliviado, pois no dia anterior ele havia dito para eu passar em sua casa para ver sua coleção de filmes. Aquilo havia me assustado mais do que qualquer filme de terror.