29.9.18

FANTASMAS DO PASSADO


Lembra de 2014? O povo entrava no cinema para ver PRAIA DO FUTURO e, depois de descobrir que se tratava de um filme temático (por conta de uma súbita cena de sexo), acontecia uma verdadeira fuga em massa da sala. Isso já tava rolando em todo o país quando fui ver o filme, na minha cidade, naquele fim de semana. E aconteceu o mesmo, muita gente deixou o cinema. Teve aquele caso do cinema que tava avisando as pessoas na entrada - Tem sexo gay no filme, senhor. E uma mensagem no bilhete: ''Avisado''. É isso aí, você foi avisado, não tente pedir seu dinheiro de volta.
Mas quer saber? A culpa não é toda do povo desavisado, a culpa é do filme também. O trailer não entregava nada sobre a trama, não rolava um homobeijo sequer. Acho que estavam com medo de afugentar o público. E acabaram afugentando MESMO, só que na semana de estreia.
Eu conheci o filme antes do trailer sair, na revista PREVIEW, edição 52, janeiro de 2014. Segundo a revista, o filme iria estrear em maio. Mas e a trama? ''O filme aborda a relação entre dois irmãos'', certo. ''A primeira parte é ambientada em 2004'', ok. ''Donato (...) salva um turista alemão e vai embora com ele para Berlim'', hum. ''Na segunda (parte), em 2012, Ayrton viaja atrás do irmão''.
E é só isso que a revista revela. Teria sido escandaloso demais dizer ''... salva turista, se apaixona por ele, e vai embora para Berlim''? É, o filme tem sua parcela de culpa.

2 comentários:

Frazec (vulgo Jean-Philipe Rameau) disse...

Alessandro,

Também vi o filme, mas não creio que o filme devesse revelar mais do que o fez. Eu não leio críticas nem vejo trailers antes de ver um filme. Reservo o impacto para mim mesmo. Quando fui ao cinema, senti o impacto da melancolia bem representada por Wagner Moura, as emoções intensas e bem contidas. Não entendo o filme como temático, ao menos não do ponto de vista da relação homoerótica lá presente. Poderia, com algumas variações, ser um filme em que, em meio a diferenças, o mais periférico se deixa arrastar pelo mais poderoso. Suponho que ele aposte na carga humana do enredo e da sexualidade, mais do que na especificidade gay (que existe). Há um homem perdido, que tenta se achar. Há um futuro (metaforizado na praia), que parece prometer libertar do passado. Há um presente lacunar. Há uma promessa que não dá conta de todos os buracos da vida (a Alemanha). Tudo isso leva a contar uma história humana que, por acaso (ou, talvez, nem tão casualmente), também é gay. Eis uma das qualidades desse filme!
;-)

Anônimo disse...

Esse filme e "Tatuagem" são duas produções que eu adoro. "Que Horas Ela Volta" e "Hoje Eu Quero Voltar Sozinho" são outras maravilhas nacionais.

Recentemente vi "O Som ao Redor" e "Aquarius", mesmo diretor, e gostei de ambos.

Gosto muito mais de "Aquarius", é excelente! e tem cena de sexo, um bctão peludo e piroca de vários tipos e ninguém reclama.

Se a gente pensar um pouco mais longe "Cama de Gato" e "Um Copo de Cólera" não sofreram repudia do público, mas "Do Começo ao Fim" as pessoas achavam uma pouca vergonha, uma produção desnecessária e outros comentários pejorativos. E olha que a história foi sendo recortada e picotada porque poderia chocar a sociedade que assistia "Banheira do Gugu" as 15h da tarde de domingo.