O Anselmo tá morando aqui em casa há 14 meses, nunca ficou tanto tempo longe da família. Sua mãe também sente saudades, em agosto ela se autoconvidou e disse que viria passar uma semana aqui com a gente, em outubro. Beleza, eu pensei, temos dois meses. Tenho que mostrar pra ela que o filho está sendo bem cuidado. A gente tem dois meses pra pintar a casa, arrumar um quarto pra ela, comprar uma cama, tapar alguns buracos, tirar o pó, etc.
ÚLTIMA SEMANA
É claro que acabou ficando tudo para a última hora. Foi um domingo inteiro só pra limpar a sala. Bem, eu sabia que não precisava fazer um trabalho perfeito, era só uma questão de ponto de vista, o ponto dela. Vejamos, ela entra na casa e dá de cara com aquela enorme estante com dvds, com mais de dois metros de altura, é impressionante. Ela olha para baixo? Não. Mas tem um degrau ali, ela vai olhar para baixo sim. Nesse caso é melhor tapar o buraco, perto do chão, com massa corrida. Ela vai olhar atrás da porta? Não. Então não preciso caprichar na pintura da parede. Esvaziar e arrastar o guarda roupas? Que bobagem. Com um pincel, a gente pintou a parede ao redor do móvel.
ÚLTIMO DIA
Pela manhã notei manchas brancas na parede pintada. Passei o pincel novamente e atacamos o último cômodo, nosso quarto. Estávamos prontos.
DIA D
Acordamos, beijo, sexo, banho, e o Selmo foi pegar a mamãe no aeroporto. Eu não tive um único minuto de descanso. As manchas na parede voltaram, em outros lugares. O avião patrão, o avião! Calma Tatu, ainda temos tempo. Abri a lata de tinta, eu adoro abrir latas de tinta, é tão fácil e eu nunca me machuco 😠, e peguei o pincel. Pintei sem mover móveis e quadros. Ah colé? Ela vai olhar atrás do quadro da Audrey? Retirei e escondi as tábuas que impedem os cachorrinhos de fazerem xixi na parte baixa das estantes. Livros, jogos e dvds agora estavam expostos. Os filhotes vão se comportar? Nada de desintegrações, pode ser? Que nada, é melhor deixar todo mundo no quintal por enquanto. Comecei a varrer o chão, os três estão perdendo a pelagem de inverno ao mesmo tempo. Bati o rodo na parede e pedaços voaram. Dois dias e a massa corrida ainda não secou? O avião, o avião.
Juntei os cacos, montei a parede de novo, mais massa, abri a lata de tinta e peguei o pincel que havia acabado de lavar. Tentei fazer a rachadura sumir. Sujeira, pó, teias de aranha, rachaduras, goteira, paredes precisando de uma segunda mão de tinta em algum canto, um cãozinho fazendo uma caquinha "cheirosa" debaixo da janela do quarto de hóspedes ... tantas coisas que poderiam entrar no campo de visão da minha sogra, e eu só estava percebendo isso agora. O avião patrão, o avião. Olhei para o relógio. Ela já aterrissou! E eu ainda preciso preparar o almoço.
Ela entrou na casa, conversando com o filho. Olhava para tudo ao mesmo tempo que parecia não estar olhando para nada. Uma estante gigante com dois mil filmes? Onde? Nenhum AHH ou OHH? Eu aceitaria até um HUM. Um fio de suor desceu pelas minhas costas.
Sogra, dia 1. Vamos ver no que isso vai dar.
3 comentários:
Maravilhoso, só pecou por dizer que ela se auto-convidou. não precisava .
Não sei se precisa contar o resto.
Uma história boa, por vezes, fica só com o começo...
No próximo post coloca uma foto da Jane Fonda kkkk
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