TEM ALGUM MÉDICO NA CASA?

Eu havia passado semanas, entrando e saindo, de vários sites de relacionamentos, e nada. Se pintava alguém da minha cidade no pedaço (coisa rara), a pessoa não fazia o meu tipo. Estava quase desistindo quando um cara perfeito, ou algo parecido, surgiu do nada. Ele gostava de gatos, e não de cachorros, e morava na capital, e não na minha cidade, acho que posso conviver com isso. E ele era médico, minha mãe ia adorar, um genro doutor!!

ELE: me passa o seu celular

EU: não tenho celular

ELE: olha, tudo bem se você não quer me passar o número ...

EU: é sério, não tenho celular

ELE: gasp, mas todo mundo tem! (já ouvi essa frase dezenas de vezes, a gente é obrigado a ser como todo mundo?).

Passei o endereço do meu blog pra ele, e ele gostou muito daqui. Aí marcamos um cinema, depois de alguns dias. Ele morava perto da avenida Paulista. Eu não queria chegar atrasado barra suado barra com fome barra qualquer outra coisa, o encontro teria que ser perfeito.

 

Então mudei toda a minha programação. Não vou andar da Luz até a Paulista, não quero suar, vou de metrô. Logo, vou deixar de passar por algumas lojas e deixar de comprar algumas coisas. Mas quando passei por uma loja de dvds, fiz algumas compras. Digo, fiz algumas compras pensando: e se ele me perguntar quais filmes eu comprei? Quero passar uma boa primeira impressão, não posso comprar qualquer coisa. Tirei a lista da mochila:

Ceeerto, ele pode dizer algo como ''ah que legal, você comprou Fargo'' e também ''Minha super ex namorada? Credo''.

Ou

''Já ouvi falar de Fargo, mas nunca vi'' e ''Adoooro Uma Thurman''.

Era complicado, não tivemos muitas conversas sobre filmes.

Na dúvida deixei de comprar muitas coisas e ... roupas! É isso! Talvez não tenha problema algum se eu comprar roupas! Afinal, é isso que os adultos fazem, deixa aquele jogo de Nintendo Wii pra semana que vem.

Lá estava eu, na entrada do cinema:

nenhuma gota de suor, confere

almoço e fio dental, confere

trident, confere

coisas de adulto na mochila, confere

E o cara não apareceu.

Tenho duas opções, 

entrar e ver o filme, ou

ir até a casa dele, 

eu já tinha o endereço!

Mas ninguém atendeu a campainha,

beleza, perdi o cara e o filme.

Alguns dias depois ele apareceu no chat, pedindo desculpas, estava indo me ver e caiu da escada. A-ham, sei... difícil de acreditar. Ele ligou a câmera e um cara todo engessado, e com pinos de metal, apareceu na minha tela. Ele inclinou o corpo todo e levou um dedo até o teclado para falar comigo. Era impossível continuar morando naquela casa, naquele estado. Ele fez as malas e foi morar com a mãe em sua cidade natal.

Era para ter tido um final feliz e eu ia contar isso no blog, mas hey, é comédia romântica, o povo gosta quando a gente quebra a cara. Então, Anderson, já se passaram 3 anos, será que você ainda visita o meu blog?