EU AINDA SEI O QUE VOCÊS FIZERAM NO SÁBADO PASSADO

Mais um sábado, abrimos a locadora pela manhã e cada um foi para o seu canto. Eu fiquei no andar térreo com o Alexandre, Téia no andar de cima com os videogames. No meio da tarde o movimento estava fraco e nós três nos reunimos no balcão principal. Não havia ninguém na locadora e o sol entrava agradavelmente pela porta da frente. Foi aí que vimos uma sombra. Não estava ali no minuto anterior, e, com toda certeza, não apareceu de um segundo para o outro, mas para nós foi um verdadeiro clichê de filme de horror. Era o Betty Blue, parado ali na porta, bêbado, tentando ficar em pé, olhando para nós.
Então tá, ele encontrou o caminho de volta até a locadora e, será que queria vingança? Estava apenas parado ali, olhando, não dizia nada, estava dando medo. Com tanta barba e cabelo embaixo do chapéu de cowboy não dava para ver seus olhos. Ele não se mexia, nós também não.
- O que a gente faz?
- Alguém tem que tirar ele dali. O cheiro já está incomodando.
- Sabe o que eu vou fazer?
- Não! Chega desse negócio de "chupa meu pau cowboy". A gente tem que sair daqui e pedir ajuda pro segurança da farmácia de novo.

- Mas o cara tá bloqueando a saída.
- Vamos gritar socorro bem alto.
- Pode esquecer. Resolvo isso já.
Téia foi até o quarto dos filmes perdidos e pegou o display de 2 metros do Michael Keaton como Batman. Andando atrás do enorme herói de papelão, ela foi se aproximando do mendigo. Se ela queria assustar o cara com isso... ela conseguiu. Betty Blue levou um susto daqueles. Saiu da locadora xingando meio mundo, além de ter urinado um pouco na calça.
- E nunca mais volte aqui, ela gritou.
E ele nunca mais voltou.

EPILOGO

EU SEMPRE VOU SABER O QUE VOCÊS FIZERAM NO SÁBADO PASSADO

Cinco anos depois. Eu não trabalhava mais na locadora, nem a Aletéia (nem sabia por onde ela andava). Fui ao cinema para ver um filme e, enquanto estava na fila, vi o Betty Blue passando por ali. Será que ele vai me reconhecer? Havia um display enorme na porta do cinema, ia do chão ao teto, era o pé do Godzilla de Roland Emmerich, que ia estrear em breve. O anúncio dizia "tamanho é documento". Betty Blue bateu acidentalmente no display, levantou a cabeça para ver o que estava em seu caminho e levou um susto. Deixou o local apressadamente.
Um mendigo com posterfobia, um legado da Aletéia.

E esse é o final de uma Era no blog. Pensei muito sobre isso nos últimos dias, não consegui me lembrar de nenhuma outra história interessante para contar. Chega de locadora, chega de Aletéia. Ela poderia me ajudar nesse momento, aprontamos muita confusão juntos. Agora, graças a mim, ela está no hiperespaço, quem sabe, talvez um dia o google a traga até este blog.