ANA LU E O SEGREDO DE BROKEBACK MOUNTAIN

O patrão abriu a porta e nos levou escada acima. Todo aquele andar agora fazia parte da video locadora. O pequeno cômodo dos videos perdidos acomodaria os filmes eróticos. Adiante, estantes com filmes nacionais e os documentários ao lado. Lá no fundo, havia um salão com janelas imensas. Ali seria o lugar dos jogos. Uma estante para os cartuchos de mega drive, outra para os de super nintendo, outra para o master system. Ao longo de duas paredes, 7 arcades. Um novo funcionário deveria ficar nesse andar o tempo todo, vendendo fichas para as máquinas e, como sempre, espantando as crianças da seção de filmes adultos.
Eis que surgiu Ana Lu. Seus avós vieram do Japão e não falam quase nada de português, mas ela, e seus pais, nasceram aqui mesmo. Ela era miudinha e tímida, tipo Knives Chau. Não aprovava o modo da Aletéia de espantar os moleques da seção de filmes xxx com uma vassoura, e tentava ser educada com eles, tipo, "por favor, só para maiores de 18, ok?". Ficando toda vermelha enquanto falava. Era como a Juliana, nenhuma das duas entrava naquela seção, nem para limpar (sobrava sempre pra mim) ou para guardar filmes (Téia fazia isso sem problemas).
Vez ou outra, eu ficava lá em cima. Me encontrava com o meu namorado do mal nº 1 e gostava de ver os garotos jogando "super street fighter" e "mortal kombat".
Meu BF estudava no período da tarde, ele deixava a escola e passava na locadora para me ver. Alguns minutos depois, ele me acompanhava até o ponto de ônibus, eu havia começado a estudar no período da noite.
Comecei a passar mais tempo lá em cima, enquanto as meninas jogavam conversa fora lá em baixo. Um dia, Téia subiu as escadas e ficou me encarando, dando um sorriso enquanto mascava seu chicle com a boca aberta, parecia estar esperando algo de mim, não dizia nada.
- Que foi? perguntei.
- Ana Lu gosta de você, ahahahaha (risada de bruxa que dá calafrios).
Não tive muito tempo para processar essa info, meu BF apareceu naquele momento. Notei que não havia ninguém por perto, puxei o cara até o balcão e nos beijamos profunda e demoradamente.
Depois, com um sorriso bobo na cara, dei uma olhadinha ao redor. Ana Lu estava lá, no topo da escada. Será que havia acabado de chegar? há quanto tempo ela estava parada ali?
Pela expressão em seu rosto, eu diria que ela viu o suficiente. Se virou e desceu as escadas em silêncio.

Continua em "procura-se Ana Lu desesperadamente".