Lá estava eu, morando sozinho na casa da vovó. Depois que ela faleceu, minha mãe tentou alugar a casa mas eu bati o pé e me mudei pra lá. A casa fica a poucos quarteirões da casa dos meus pais. Mas ainda assim, lá eu teria, enfim, minha tão sonhada privacidade. Não seria como aqui, com o meu pai tentando espiar pelas janelas, sempre que eu recebo uma visita, tipo um homoamigo.
Acordei pela manhã e fui até a sala, não preciso vestir roupas, estou em casa. Abri uma janela, no estilo Branca de Neve, e não encontrei coelhinhos ou esquilos lá fora. Não. Eu dei de cara com a minha mãe. Parada, ali na calçada. Ela me viu e veio na minha direção, estava esperando por mim.
- Tem alguém aí com você? ela perguntou.
Mas que diabo de universo alternativo é esse? Normalmente, é o meu pai quem faz esse tipo de coisa.
Fechei a janela rapidamente. Ei, respeite a minha nudez. E voltei pro quarto. Abri a janela do quarto e ela estava lá também.
- O Alexandre está aí com você?
Hã?? Ela desenterrou esse cara lá dos anos 1990. De onde saiu isso?
- Se ele estiver aí, eu vou ficar muito chateada.
Wow, desde quando ela é racista? O meu pai é que é racista.
- Você merece coisa melhor.
Ceeerto, agora a Maria Joaquina jogou gasolina no Cirilo e riscou um fósforo.
Fechei a janela e fui até a cozinha. Precisava checar a porta dos fundos. Estava devidamente trancada, ótimo. Olhei pela janela, mas depois me lembrei que ela ficava três metros acima do chão. Minha mãe não poderia aparecer naquela janela. Respirei aliviado, privacidade finalmente. Fui até o banheiro. E enquanto me preparava para tomar um banho relaxante, no estilo Ariel (hey, BSC, bicha sozinha em casa), ouvi um baque na porta.
Frio na espinha, de alguma maneira, minha mãe estava dentro da casa. Corri até a porta e a segurei. Não consegui encontrar a fechadura. O que ela queria agora? Ver se estou usando toalhas limpas? Esse amor materno em excesso faz ela parecer um serial killer. E eu não vou fugir da minha própria casa não senhora.
Olhei pela escotilha redonda da porta, ela estava lá fora e ... escotilha? Onde eu vi isso antes? Ah, sim. Jurassic Park. Minha mãe agora era um velociraptor.
Isso não fazia sentido, só pode ser um sonho. Ok, tenho que largar a porta e procurar por alguma revista. Se as letras estiverem bagunçadas, é sonho. Não vi nada com letras por perto. Ela estava quase derrubando a porta. Ok, o interruptor, se a iluminação não mudar, é sonho. E cadê o interruptor? Quem projetou essa casa?
Minha raiva em excesso me fez acordar.
Estou na minha cama atual agora, no meio da noite, recuperando o fôlego. E aí, ouvi a porta da frente se abrindo. Deve ter sido impressão minha. Qualquer barulho faria o york latir. E ele ainda estava quietinho, dormindo perto da minha cama. Uma sombra avançou pela escuridão. Era ela, só podia ser a minha mãe. Tentei gritar, mas não conseguia mover a boca.
Acordei novamente. Sonho dentro de sonho, eu odeio isso.
Agora era real, eu podia ver os números no relógio. 23:56, ainda era ''ontem'', que droga, tinha uma noite inteira pela frente. Mas não sonhei com mais nada.
Acordei pela manhã bastante excitado. Beleza, é a parte mais alegre do dia. Comecei a pensar no Anselmo. E aí, minha mãe, a verdadeira desta vez, bateu na minha janela.
- Quero lavar roupa agora, deixa eu pegar o seu cesto.
Aquele pesadelo abriu meus olhos. O número de velociraptors que cercam a minha casa é maior do que eu pensava.
5 comentários:
Hahahahahah!!!
Ótimo! Saudades dos contos da sala escura!
Esse cara tem o seu queixo
(inlove)
ahhahha muitooooo bom
Que coisa mais fofa o comentário do Anselmo! Ou o fofo é o boyfriend que fez uma referência sexy a ele no conto...?
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