8.4.20

A ARTE DE PERDER AMIGOS


A gente havia alugado um monte de filmes na sexta feira. Vamos ver todos eles na minha casa, eu tenho um vídeo cassete (sou rica). Mas antes de sair, ele quis tomar um banho. Eu estava no quintal brincando com os dogs, já era noite. A luz do banheiro era a única acesa na casa. A porta do banheiro era de ripas, havia um pequeno espaço entre elas. Eu não resisti, escolhi uma fenda e olhei lá dentro. Dava pra ver o meu amigo no chuveiro perfeitamente. Fui descendo os olhos até o umbigo e aí, a fenda se fechou, não dava para descer mais. 
Só pode ser brincadeira. Procurei outras fendas, fui de cima para baixo, de um lado para o outro. Aí o meu amigo me chamou. Corri de volta para fora da casa e depois voltei - Tá me chamando?
Ele queria ter certeza de onde eu estava.
Após o banho, ele me falou da tal sombra que tava passando pela porta. Foi legal da parte dele não contar pra ninguém que eu era gay, mas nunca mais vimos um filme juntos.

 

Esse cara era demais. Marcamos um encontro pela web, e fui até a casa dele. Tava cheia de gente, mas todo mundo respeitava a privacidade dele, ninguém veio bater na porta do quarto. E que quarto era aquele? Os posters, as revistas, os filmes, os action figures, os games, eu quero me mudar para esse quarto. Eu olhava para tudo aquilo ao meu redor, nem me dava conta do carinha tirando a minha roupa. Ah, ok, certo, vim pelo sexo. Mas, será que podemos ser namorados? Não. Ele havia dito, online, que só queria sexo, me lembro bem. Beleza, podemos ser amigos, temos muita coisa em comum (ainda olhando ao redor). Deixei meu telefone com ele antes de voltar pra casa e ele nunca me ligou. Por quê? O sexo não foi bom? Não quero dar uma de stalker, mas tenho que encontrar esse cara de novo.
No chat, eu o encontrei, uma semana depois, e ele disse que não gosta de repetir uma transa. Tem uma fila e ela está sempre andando.
- Podemos ser apenas amigos?
HxH69 saiu da sala.
 
 

Nos encontramos várias vezes, só pra fazer sexo. Era o meu único fodamigo naquela temporada. E ele queria muito fazer sexo a três. Ele me cobrava isso sempre que a gente se encontrava. Um dia, eu estava nas Lojas Americanas vendo uns dvds e um cara passou por mim (deu match, mas ninguém falava assim em 2004). Fomos até o banheiro do shopping e aí eu me lembrei do meu amigo.
- Você gostaria de fazer a três?
- Ah ...
Ok, percebi que tava assustando o cara.
- Qualquer dia - completei.
- Pode ser. Tipo assim, qualquer dia (e muita gente falava ''Tipo assim'' em 2004).
Levou alguns dias, mas finalmente consegui reunir todo mundo. Ah, caramba, foi espetacular. Tô me lembrando disso agora e tô ficando "animado" lá em baixo.
Os dois se encontraram mais uma vez, sem mim, mas eu não liguei. Quando consegui uma folga tentei marcar um encontro. Aí me disseram que estavam namorando, um com o outro, era sério, acabou o casual para ambos. Fui convidado para outro encontro? Não. Fui convidado para o casamento? Também não.
Fiquei feliz pelos dois (mentira, queria matar ambos), eu os havia apresentado (espero que terminem). Aos olhos deles, eu era um pivete solteiro viciado em sexo e eles eram (agora) um casal de adultos que amadureceu e que estava vivendo um grande amor. Amizade, só com outros casais, pra tomar um chazinho.
 

5 comentários:

  1. Puts, casal ingrato mesmo, hein. Nem chamar pra casamento?!?! Ingratidão tsc tsc

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  2. Analisando o que mudou nessa sentença: "(...) eu era um pivete solteiro viciado em sexo (...)"
    Hahahahahahahaha

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  3. Certíssimo
    Não mais pivete
    Não mais solteiro
    ...

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