18.10.13

A HORA DO PESADELO DA BRANCA DE NEVE


Eu e minhas irmãs tivemos uma infância feliz, cheia de filmes de terror. Eu vivia alugando filmes de horror na locadora e elas costumavam ver cada um deles comigo. É claro que havia sexo em vários filmes, nenhum de nós deveria estar vendo esse tipo de coisa, mas eram cenas que não impressionavam, uma pausa no terror, a gente não ligava para o sexo, a gente queria sentir medo, só isso.
E nós vimos de tudo, filmes de zumbis, os ''Hellraiser'', todas as ''sexta feira 13'' disponíveis e também os ''a hora do pesadelo''. Na hora da brincadeira, o tema era sempre esse, filmes de terror.
Certa vez, nós estávamos de férias no litoral com outra família (que já morou na nossa rua). Ao lado da nossa ''colônia de férias'' havia uma casa abandonada. Ela começou a ser construída mas o projeto foi abandonado, só haviam paredes. Era um labirinto de tijolos que estava sendo dominado pela vida vegetal. Passamos por lá durante o dia, era de meter medo, digo, era perfeita.
Naquela época, a gente vivia brincando de Freddy Krueger em casa, naquele terreno abandonado teríamos um cenário perfeito para a nossa brincadeira. Peguei uma luva de goleiro e acabei com ela, ou seja, abri quatro buracos na ponta dos dedos, e aí enfiei quatro facas de cozinha, uma em cada dedo, badda bim, badda bom, badda Freddy Krueger!
Minhas irmãs corriam pela casa enquanto eu andava lentamente, raspando minhas ''unhas'' nas paredes. Nossos dois vizinhos, uma menina (esqueci o nome dela) e seu irmão Fabiano estavam apavorados, não eram acostumados com esse tipo de brincadeira e o sol já estava se pondo. De um lado estava minha irmã mais velha, ameaçando invocar a alma de Amanda Krueger para me pegar (eu disse que a gente via os filmes juntos) e do outro lado estava a filha do vizinho, atrapalhando a brincadeira de duas maneiras: ela estava vestida de Branca de Neve (voltou de uma festa e não queria tirar a fantasia) e também estava apaixonada por mim. Ela não queria fugir, queria que eu a agarrasse. Então ficava parada na minha frente sempre que possível.
Conseguiu me puxar para um canto e perguntou se eu queria ganhar um beijo. O irmão dela apareceu nesse exato momento (meu salvador) e me provocou, ele queria ser caçado pelo Freddy, então eu fui atrás dele. A menina deve ter ficado furiosa, deixou a brincadeira. Então, havia apenas eu, minhas irmãs e o Fabiano na casa. Consegui pegar o garoto num pequeno cômodo, a gente tava rindo a beça. E aí ele me perguntou, o que tava rolando entre eu e a irmã dele há alguns momentos. Eu contei que ela queria me beijar.
Então ele me perguntou se eu já havia beijado uma menina antes, eu disse que sim (que nada, virgem até hoje!). Aí ele me perguntou como é que foi.
Ah, nada de mais, é só assim (fechei o punho e dei um beijo nas costas da mão). É, ele disse, mas como é fazer isso na boca de alguém?
Aí eu perguntei - você quer tentar? (até hoje não sei dizer de onde saiu isso. Eu já era pré programado para a homossexualidade antes da puberdade, disso eu tenho certeza). Ele riu, mas acabou topando. E não foi uma bitoca qualquer, hey, eu já havia visto muitos filmes na vida, estava na hora de botar aquelas coisas em prática, Tom Cruise em Top Gun era a minha inspiração.
Quando nossas bocas se separaram, foi a vez do Freddy Krueger levar um susto daqueles. Lá estava ela, a Branca de Neve, parada na entrada do cômodo. Pensei que tinha ido embora. Se isso fosse um filme, um trovão ao fundo completaria a cena.
Ela saiu correndo e a brincadeira acabou. Se ela abrisse a boca, eu e o Fabiano estaríamos encrencados. Mas ela não contou nada pra ninguém, estava furiosa. No dia seguinte tentei me aproximar, precisava ter certeza de que ela iria guardar segredo. E ela me deixou de queixo caído, estava brava porque eu havia beijado o irmão dela: - Alessandro, eu te pedi um beijo primeiro! - O fato de nós dois sermos homens não a incomodava, o irmão deveria ter esperado a vez dele, apenas isso.
Lição de homotolerância de uma menina de 11 anos. 

7 comentários:

  1. Espero que essa Branca de Neve tenha encontrado seu príncipe.

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  2. Depois dessa eu ate daria um beijinho nela!!

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  3. Muito boa!

    Gostei dessa história :P

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  4. Cara, se ela estivesse fantasiada de Ariel seria perfeito. Teríamos o final original do conto onde ela vira espuma por não ter ganho um beijo!!!!!!!

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