MAIS CONFUSO QUE A FICÇÃO

Dois homocaras entraram num bar, não, isso não é uma piada, foi no meu bar. É um acontecimento raro. Então existem outros homocaras na cidade? Beleza. Quero puxar papo, quero fazer novas amizades. Como se faz isso? Eu não sei. Já fui chamado de "tipo bófinho", preciso expôr minha sexualidade de alguma maneira. Aqueles dois caras eram bem afetados e eu não faço o tipo "gay óbvio". Vou ficar na minha, se alguém puxar conversa, se pintar uma oportunidade, digo que sou gay com todas as letras, é fácil, são apenas 3 letras.

Resolvi ligar a tv. No canal da Warner estava passando o filme "Alexandre", aquele mesmo, do Colin Farrell. Isso é ótimo, vou mostrar que sou gay, heterocaras não gostam desse filme (ok, ok, ninguém gosta desse filme, mas o Farrell ia aparecer peladão em alguns minutos). Só que nenhum dos dois rapazes estava olhando para a tv, eles estavam conversando ali na mesa.

Pagaram a conta e foram embora.

Algum tempo depois, pintou um cara que mora no bairro. Para mim, ele é 99% agá tê. É bonitão. Para ele, sou agá tê também. Então, nada de avançar o sinal, eu não conheço os limites da heteroamizade entre dois homens, logo, é melhor ficar bem distante. Eu estou sempre distante, quem puxa conversa é sempre ele. Essas investidas me deixam um tanto desconfiado. Ele já me convidou para ir num show de rock. E hoje perguntou se eu sei jogar xadrez. Me falou de um site e me passou seu apelido - me encontra lá e vamos jogar juntos. E, antes de ir embora - sabe, algumas pessoas usam o site para passar cantadas.

Esse cara me deixa confuso. E o pior é que eu também deixo alguns caras confusos. Encontrei um amigo dos tempos de escola no feicebuqui. Um leitor do blog me disse que o amigo era gay. Mas o amigo não sabia nada sobre mim, no bate papo ele levou quase duas horas para sair do armário. Simplesmente explodiu numa única e longa frase. E ficou esperando pelo meu ataque homofóbico.

Se a vida fosse um filme temático gay, onde a maior parte do elenco é de homocaras, ninguém ficaria na dúvida por tanto tempo. E eu ficaria livre de algumas pérolas do feicebuqui: o quê? você também? Ah, Alessandro, por que não me agarrou lá na escola há 20 anos?