11.10.12

ESTÁ CHOVENDO FILMES

Publiquei um conto no blog em abril, mas foi só a primeira parte, e, sem querer, acabei esquecendo de publicar o restante. Eu estava ocupado demais com uma edição especial. Certo, antes tarde do que nunca, a primeira parte do conto você confere aqui. E agora, de volta pra locadora.

Parte 2

Em menos de um minuto, colocamos nossas roupas de volta. O barulho estava vindo do andar de cima. Olhei para a escada e vi uma fita de vhs num degrau. Havia outra alguns degraus acima. Lá no topo da escada, as caixas com filmes estavam inclinando perigosamente para frente. A caixa que estava no chão estava toda amassada e as outras, em cima dela, estavam tombando na direção da escada. Fitas começavam a sair da caixa que estava no alto. Eu tinha que subir a escada em menos de um segundo e evitar uma tragédia. Pisei no primeiro degrau e cabrum. Todas as caixas viraram e centenas de filmes deslizaram pela escada como uma cascata.
Pensa rápido. Vou colocar tudo de volta nas caixas. Pensa rápido. Algumas fitas, ou todas elas, devem ter quebrado durante a queda. Pensa rápido. O patrão vai reclamar com o cara que lhe vendeu as fitas e ele vai dizer que elas estavam em ótimo estado antes, antes do quê? Antes de mim. Não tenho como fugir disso, vou ter que assumir a culpa. 
Nesse momento, Téia bateu na porta da locadora, querendo entrar.  Ela não pode encontrar meu namorado aqui dentro. A mãe dela vai ter um ataque (já contei que são primos?). Pedi pro meu namorado se esconder num canto, entre as estantes, e abri a porta.
Disse pra Téia que precisava ir ao banheiro e tal. Por isso fechei as portas. Contei sobre a cascata de filmes e ela foi até os fundos da locadora. Meu namorado saiu de seu esconderijo e se mandou.
Bem, se a Téia vai ficar tomando conta do balcão, posso começar o trabalho de recolher todos os filmes espalhados. Só de olhar para aquela bagunça, fiquei com preguiça. Afastei um filme com o pé e vi algo interessante. Legal, um pornô gay, vou dar uma olhada na contra capa. Ugh, eu não sabia que três homens eram capazes de fazer aquilo. A cabeça loira e verde da Téia apareceu na porta e ela disse que ia me ajudar (agora eu tinha certeza, o mundo vai mesmo acabar no ano 2000).
Ela começou a subir os degraus, toda desastrada com os coturnos gigantes, pisou num filme, escorregou, caiu estatelada na escada e deslizou todo o caminho de volta.
- Ai, ai, até que foi divertido, mas machuquei uma teta.
- Pff, diga "seio" por favor.
- Ah, eu vou dizer "vai se ferrar", nem a pau que eu vou te ajudar ag...
Ela viu um filme no chão.
- Ahhhhhh, "nasce um monstro", eu amo esse filme, quero ver essa fita agora mesmo. Tchau.
Juntei uma pilha de filmes, estiquei os braços e os prendi embaixo do queixo. Comecei a subir os degraus. Uma fita deslizou para fora e todas elas voaram para longe. Eu estava ficando cada vez mais desanimado. 
Depois de um tempinho, quando a escada estava quase limpa, ouvi alguém batendo palmas lá embaixo. Havia uma mulher no balcão querendo devolver um filme. E não havia ninguém na locadora! A Téia havia dito que ia ver o tal filme, mas a tv estava desligada. Ok, agora a ficha caiu, ela foi ver o filme NA CASA DELA! 
Me deixou sozinho na locadora esse tempo todo.

Parte 3

Corri até o caixa, o dinheiro ainda estava lá. Ufa. Corri os olhos pelas estantes de filmes, parecia tudo em ordem, nenhum ladrão passou por aqui. 
Peguei mais um punhado de filmes, subi as escadas, coloquei a pilha num canto, desci as escadas, fui até a frente da locadora para ver se alguém havia entrado, voltei para os fundos, peguei mais um punhado de filmes, subi as escadas...

Sabe de uma coisa? Se todos os filmes estivessem no andar de baixo...
Subi as escadas, peguei uma caixa, desci as escadas, deixei a caixa atrás do balcão, subi novamente e...
Lá estavam todas elas, ali ao meu lado. Eu podia fazer meu serviço e atender as pessoas numa boa. Milagrosamente, todas as fitas estavam intactas.
O patrão apareceu. Cadê a Aletéia? Lá vamos nós, a mesma desculpa de sempre. Problemas femininos. Ela correu pra casa para colocar um daqueles negócios na calcinha. Eu já havia usado essa desculpa para salvar a Téia na semana anterior. Acho que o patrão entendia tanto de mulher quanto eu, só fiquei sabendo do tal ciclo de 28 dias alguns anos depois. Como sempre, ele caiu como um patinho.
- Sabe o que seria legal? - ele perguntou. Uma pessoa entrando na locadora, nesta segunda feira, e encontrando todos esses filmes novos nas estantes.
Estou com um péssimo pressentimento.
- Você poderia vir aqui no domingo e terminar de catalogar tudo isso.
E perder o MacGyver?? Só por cima do meu cadáver.
"Profissão perigo" era tudo para mim.
- Acho que consigo terminar tudo hoje. 
Era mentira, mas eu consegui. Haviam muitos filmes repetidos nas caixas. Muitos não eram mais lançamentos, não haveria muita procura. E o patrão disse que eu poderia ficar com alguns. Filmes usados? Eca. Mas se eu podia pegar qualquer coisa...

Cheguei em casa e coloquei o pornô gay no video cassete. Passei a chave na porta do quarto
 e pluguei o fone de ouvido na tv. Ok, vamos lá, como três homens conseguem fazer aquilo? Eu estava exausto, e acabei dormindo durante o filme. No meu sonho, o trabalho continuava. Uma voz me dizia que a Téia havia levado um filme de terror para casa. Um filme que eu não cheguei a catalogar.
Ela nunca devolveu aquele filme.

Um comentário:

  1. FICHA TÉCNICA

    TITULO ORIGINAL: it's alive
    ANO: 1974
    PAÍS: eua
    DURAÇÃO: 91 min
    DIRETOR: Larry Cohen (a coisa)

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