UM ROCCO ENTRE NÓS

Se a Aletéia achava que podia me vencer no street fighter 2... ela vencia. Mas só porque ficava apelando no hadouken. Deixamos o jogo de lado e resolvemos descer as escadas para ver a Juliana no andar de baixo, ela estava sozinha e desamparada. Mas estava vendo um filme bíblico no video cassete.
- Ah, mas quem mandou você colocar esse filme na tv? Téia perguntou.

- Ninguém vai alugar essa fita só porque você tá exibindo o filme, deveria exibir apenas os lançamentos - eu disse.

- Não estou exibindo só porque quero que alguém alugue o filme. Fiquei entediada e coloquei um filme na tv para euzinha ver.

- Eca, mas tinha que ser um filme desse tipo?
- E que tipo de filme eu deveria colocar? Terror?

Ela odiava quando a Téia colocava um terror no video. Foi aí que a Aletéia disse:

- Que tal um pornô?

Ela correu até a seção de filmes XXX e sumiu lá dentro. Ela tava falando sério? Fui atrás dela.
- Você vai mesmo colocar um filme erótico na tv?
- Relaxa carinha. Hoje é quarta feira, são duas da tarde, ninguém vai entrar nessa locadora para alugar filmes.
Certo, quarta sempre foi o dia mais calmo da semana, ainda mais durante a tarde. Vez ou outra, a gente jogava labirinto para passar o tempo (fulano que fez tal filme com fulano que fez outro filme, e tentando voltar ao começo).

- Ok, mas fica com o controle remoto na mão, com um dedo no botão stop e com um olho na porta de entrada, se entrar alguém...
- Fica frio carinha. Ah, eu quero ver esse filme, que tal?
Ahhh, Rocco Siffredi, marcou minha infância, um dos meus primeiros namorados secretos. Será que eu quero dividir o Rocco com a Aletéia? Eu estava olhando para o cara e sonhando acordado, ela reparou em mim e disse:
- Pára de ler a sinopse, veja pelas fotos!
Ler a sinopse? quem faz isso?
Ela pegou o código da fita e voltou para o balcão. Encontrou o filme na estante dos fundos. A Juliana já estava horrorizada.

- Se você vai mesmo colocar esse filme na tv, eu vou lá pra cima cuidar dos video games.
Ficamos sozinhos, eu, a Aletéia e o Rocco.
Na nossa frente, a tv, atrás de nós, a porta. Eu virava o pescoço o tempo todo, que medo. No filme, uma moça tirou a roupa. Téia começou a rir. Rocco apareceu em seguida. Uma última olhada na porta, Rocco tirou a roupa. Eu me esqueci completamente da porta.

Eu não vi, mas acho que foi assim:
Duas dobras interdimensionais colidiram na porta da locadora e uma velhinha de bengala na mão se materializou em nosso universo. Ela não estava lá um segundo antes. Ela começou a entrar na loja e veio na nossa direção. O refluxo temporal eletroestáticomagnético permitia que a velhota se movimentasse sem fazer barulho algum. E desse modo, ela foi se aproximando de nós por trás.

Rocco começou a dar uma de Rocco (já viu algum filme dele?). A "atriz" berrava como uma louca. Eu estava de braços cruzados, olhando para cima (a tv ficava no alto), com um sorrisinho no canto da boca. Téia ria tanto que me divertia.
Houve uma breve pausa no som do filme e nas risadas da Téia, foi nesse momento que ouvimos um OH atrás de nós. A velha baixou os olhos da tv, olhou para nós dois e disse, para mim:
- Por que está fazendo a mocinha ver essa pouca vergonha?
- Hã? Mas foi ela que...

Ela levantou a bengala (eu juro que levei as mãos até o rosto prevendo uma bengalada na cabeça) e se virou e foi embora.
Eu respirei aliviado, Téia não conseguia parar de rir.

- Vamos fazer uma coisa? Esse pode ser o nosso programinha de quarta, que tal?

Ela correu até a seção de filmes eróticos e gritou para mim lá de dentro.
- Olha só, tem a parte 2, a parte 3, a parte 4...