10.6.10

A PRIMEIRA CRIANÇA A PISAR EM PLUTÃO

Começou com minha mãe me apresentando à jornada nas estrelas, acho que passava na Record. Depois de ver E.T. nos cinemas ganhei minha primeira bicicleta, tinha vontade de voar com ela mas eu queria ir um pouco mais longe. Às vezes ela era a Enterprise (minha segunda bicicleta foi uma Milleniun Falcon) e pedalar por aí era como voar pelo cosmos. Mas minha mãe não me deixava ir além de sua vista, atravessar a rua ou virar a esquina. Mas ela não podia me vigiar o tempo todo. Saí do quarteirão me imaginando atravessando o sistema solar numa espaço nave (já adorava astronomia sem nunca ter tido aulas na escola e já sabia o nome dos planetas). Ok o quarteirão seguinte só poderia ser a Lua, era um estacionamento, pousei em solo lunar e voltei correndo para a casa antes que minha mãe notasse que eu havia atravessado a rua. Percebi que ela nem sempre estava atenta e quando se cansou de ficar me olhando levantei voo e fui para Marte.
A cada dia eu visitava um novo planeta. O quarteirão do cemitério, o maior das redondezas, era Júpiter. Cheguei até Netuno, o quarteirão com o convento e a igreja, e comecei a me preocupar com a enorme distância a que estava de casa. Mas havia ouvido na tv que Netuno está na metade do caminho da distância entre o Sol e Plutão. Levantei o olhar e tentei ver o mais distante que podia, uma enorme caixa d'agua, a vários quarteirões dali, seria o meu Plutão, e um dia eu iria pedalar até lá. Minha mãe nunca me viu saindo da "Terra" e eu voltei de Plutão todo contente.
No dia seguinte, na tv, a Enterprise estava chegando no limite da via láctea. Fora de casa eu olhei ao redor e vi mini montanhas ao norte, decidi, se um dia eu fosse para o outro lado dessas montanhas estaria deixando minha galáxia, pois para mim aquilo parecia ser o outro lado do mundo.
Quando ganhei minha segunda bicicleta (a Milleniun Falcon), mais alta e sem rodinhas de apoio, eu sai do sistema solar muitas vezes. Mas já estava ficando crescidinho demais para brincar de exploração espacial pelas ruas da cidade. Nunca deixei a via láctea.
Na semana passada eu estava revendo "o senhor dos anéis - as duas torres" e me deparei com aquele chato e desnecessário discurso do Sam sobre heróis. Heróis que são heróis de verdade porque nunca desistem quando a situação está ruim, eles vão até o fim da aventura, mesmo sabendo que poderiam largar tudo e voltar para a casa a qualquer momento. Eles simplesmente decidem não voltar.
Não sei por quê, mas me lembrei da minha vontade de sair da "galáxia" quando criança. Então peguei minha bicicleta (essa não tem nome) e fui ver o que havia atrás daquelas montanhas. Encontrei a represa da minha cidade, cercada por montes verdejantes, uma enorme lagoa de águas tranquilas e uma pequena ilha florestal num cantinho. Não havia nenhuma pessoa por perto, nem carros, nem casas ou prédios.
Eu estava, decididamente, em outra galáxia.


5 comentários:

  1. amanhã vou convidar um novo amigo para passear de bicicleta comigo nas tardes de domingo, espero que ele aceite.

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  2. Poxa isso lembra todo domingo q eu e dois amigos sempre exploravamos os bairros afastados da minha cidade de bicicleta, achavamos cachoerias, minas d'agua, casebres abandonados...chegamos até acampar nessas "explorações".
    Bons tempos XD

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  3. Isso me dá saudades da infancia. Tá certo que o mais longe que eu fui foi a casa "mal assombrada" que tinha na esquina, mas na época foi uma aventura e tanto xD

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  4. Amigo novo, montanhas... sei não...

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  5. Isso me lembra que em um dos meus aniversários eu queria/esperava ganhar um cartucho do Mortal Kombat e ganhei uma bicicleta.

    ODEIO bicicletas.

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