30.8.16

NÃO ENTENDO AS PESSOAS NORMAIS


A tela do cinema é uma coisa que tem um certo poder hipnótico sobre mim, desde que eu era um filhote. A tv também faz isso. Diferente daquelas pessoas que ficam conversando no cinema, ou se beijando, ou indo ao banheiro, eu não costumo tirar os olhos da tela. Eu não preciso fazer isso, eu sei que aquilo que eu tô pegando é pipoca, não preciso olhar para ela o tempo todo (até hoje não peguei nenhum dedo humano). 

Meu namorado é diferente. Começamos a ver certos filmes na hora do almoço. Então notei que, vez ou outra, ele baixava a cabeça, olhava para o prato, cutucava a comida, e depois levava o garfo até a boca. - Não acredito que ele perdeu essa parte do filme, ele vai entender o restante da trama agora?
Tem um filme francês que eu queria mostrar pra ele. O Anselmo não sabe francês, ele precisa olhar para a tela cada vez que pintar uma legenda, mas ele não dá a mínima pra isso. Ele precisa olhar para o prato antes de cada garfada. A gente viu ''Corra Lola, corra'', ele não sabe alemão, alguém está falando alguma coisa no filme e ele está olhando para o prato (medo de encontrar um dedo humano?), perdeu alguns diálogos, e aí?

Então pensei numa animação francesa de 2010, ''O Mágico''. Quase não tem diálogos, seria perfeito. Mas, sem diálogos, você precisa olhar para a tela o tempo todo, como nos primeiros minutos de ''2001''. Os macacos encontraram o monolito negro na Aurora do homem e o Anselmo tá procurando um dedo humano na comida da minha mãe.

Mudança de planos, que tal produções dubladas? Fiz o Selmie ver alguns episódios clássicos dos Simpsons e também de Arquivo X. Mas o dedo fantasma continua escondido no prato dele. Não sei como as pessoas fazem isso, tem uma tela enorme dentro do cinema e tem gente que a ignora, ou uma tv com dezenas de polegadas a poucos metros do seu nariz. Eu começo a me sentir mal no lugar do diretor, dos atores, dos produtores, de todo mundo. Tipo ''Aquela cena de dois segundos custou milhares de dólares em efeitos especiais e um dos dublês quase morreu. E esse cara aí resolve desviar os olhos para o arroz e o feijão justamente nessa hora''.

PRA MIM, TAMANHO DA TELA É DOCUMENTO
E por alguma razão misteriosa, a grande maioria das pessoas fica hipnotizada pela tela minúscula de um telefone celular. Aí o Anselmo me ignora, pisa num buraco na calçada, anda pelo meio da rua, esquece que eu existo. E tudo isso pra quê? Pra pegar um zubat em cada esquina. Então tá, quem precisa do cinema francês quando se tem dezenas de zubats no bolso?

4 comentários:

Anselmo disse...

Ei, quem você está chamando de normal?

Homem, Homossexual e Pai disse...

Post perfeito! eu sou do tipo dos que se hipnotizam, mas somente no cinema... ate esqueço que estou acompanhado... já na telinha sou super dispersivo... faço pelo menos umas 4 coisas ao mesmo tempo!

ALESSANDRO SKYWALKER disse...

é, tem toda razão, você quase se matou atravessando a avenida pra pegar um jigglypuff. Se fosse um pokemon raro tudo bem, mas um jigglypuff...

Anselmo disse...

Celular no bolso, só saía de lá quando vibrava. Olha o exagero sr. 8 ou 80!