PROIBIDO PARA HOMOCARAS DO TIPO 1

Me lembro de pegar minha bicicleta e pedalar para bem longe de casa, às vezes para uma cidade vizinha, todo mês tinha que fazer isso, só para encontrar uma banca de jornais bem distante onde ninguém me conhecia e comprar uma G magazine. Hoje eu poderia fazer isso em qualquer banca mas parei com a pornografia há anos, e não dava para continuar a ler notícias sobre um mundo no qual, até hoje, não tenho o costume de frequentar.
Hoje também está mais fácil ir à um cinema qualquer para ver um filme temático gay. Mas em 1994 isso era meio complicado. 3 FORMAS DE AMAR havia chegado ao Brasil, o filme causou uma certa comoção, foi notícia no Fantástico na época que mostrou até cenas como essa da foto na tv.
Fiquei muito interessado em ver o filme. Muito mesmo. Mas eu chegava na porta do cinema e voltava para trás, não era um filme +18 mas eu tinha vergonha de comprar um ingresso com a mocinha da bilheteria.
E eu sei bem como é. Todo homem que aluga filmes eróticos numa locadora sofre um pouco quando leva o filme até o balcão de atendimento. Eu temia que ver "3 formas de amar" poderia me denunciar como homocara ao mundo.
Minha prima, alguns anos mais nova que eu, foi ver o filme.
Passei dias e dias tentando arrancar dela maiores detalhes sobre o filme, especialmente detalhes homopicantes. Mas era complicado. Não dava para ser mais explícito nas minhas perguntas sem denunciar meu homo-interesse no filme e ela falava muito pouco, me deu nos nervos, o filme saiu de cartaz e eu fiquei na mão.
Quando saiu o VHS eu fiquei com vergonha de alugá-lo.
Então era assim que ia ser?
Peguei o filme e o levei até o balcão, em menos de 1 minuto estava do lado de fora respirando aliviado.

Fui ver o filme na casa da minha prima e, é claro, foi aquela decepção em matéria de homo-cenas. Aquilo que choca os heterocaras para nós não é nada de mais. Mas curti a trama.
A partir daí os obstáculos começaram a cair, eu podia comprar ou alugar o que eu quisesse. Ficar com vergonha, olhando para o chão, nunca mais.